Torre de Marfim do BCE fez duplicar custos e agravou taxas cobradas à banca
Custos de manutenção e rendas aumentaram 130%. São mais de 58 milhões de euros. E o espaço já não chega para todos
in: Dinheiro Vivo, 1 março 2017
A nova sede do Banco Central Europeu (BCE), inaugurada em 2015 e construída num dos bairros mais concorridos de Frankfurt, levou a um aumento de 130% nos custos anuais do supervisor com despesas de “manutenção e rendas de edifícios”.
Se em 2015, o BCE gastou 25,5 milhões de euros nesta rubrica, no ano passado, primeiro exercício completo de atividade na nova sede, esta rubrica já exigiu 58,1 milhões de euros ao supervisor. Apesar desta subida dos custos e do investimento de 1,3 mil milhões de euros na construção desta fortaleza da supervisão com duas torres – mais 450 milhões de euros que o previsto -, esta nova sede, inaugurada nem há dois anos, já não é suficiente para albergar o gigantismo de que sofre cada vez mais a supervisão da banca a nível europeu.
A sede foi desenhada para albergar 2900 funcionários mas o supervisor fechou 2016 com mais de 3100 trabalhadores acumulados, tendo por isso que continuar a arrendar espaços nas zonas próximas à sua nova sede – o que também alimentou os custos. De 2015 para 2016, o BCE viu o quadro de pessoal crescer mais 10,5%, de 2871 para 3171 trabalhadores. Ao mesmo tempo, também os custos com pessoal subiram 26 milhões de euros, somado 466,5 milhões, mais 6% que em 2015.
“O aumento do número total do pessoal afeto à Supervisão Bancária do BCE, a mudança para novas instalações e o estabelecimento de uma infraestrutura informática e estatística necessária ao desempenho das funções de supervisão contribuíram para a subida da despesa total do Mecanismo Único de Supervisão (MUS) em 2016”, lê-se no documento relativo às contas anuais do BCE, agora divulgado.
Taxas disparam 38%
É à conta do aumento dos custos administrativos, que na soma de todas as rubricas saltou de 864 milhões para 954 milhões, que o Banco Central Europeu justifica o aumento das taxas cobradas aos bancos no ano passado, já que o valor de estas taxas está diretamente ligado à despesa incorrida pelo BCE – que desta forma pode aumentar as suas despesas livremente porque estas serão sempre compensadas. “Este aumento” nos gastos administrativos do supervisor “deveu-se às despesas mais elevadas incorridas com o MUS. Os gastos relacionados com o MUS são integralmente recuperados através da cobrança de taxas de supervisão às entidades supervisionadas”, explica o BCE no documento sobre as contas de 2016.
Segundo os números divulgados neste documento pelo supervisor, a banca europeia foi chamada a pagar mais 38% de taxas de supervisão de um ano para o outro. Aos 277 milhões cobrados pelo BCE em 2015, seguiram-se 382,1 milhões de euros em 2016. Contudo, e tal como ocorre quando se tenta aumentar a carga fiscal na banca, estes custos muitas vezes acabam por ser repassados pelos bancos até ao cliente final – através das comissões por exemplo. A banca portuguesa será especialmente sensível a esta tentação de “passa a outro e não ao mesmo” das cobranças do BCE até as cobrar ao cliente final, já que mesmo sem o aumento das taxas, o controlo de custos continua a ser uma das exigências na banca.
O BCE, tal como o Dinheiro Vivo já escreveu, apresentou lucros de 1,2 mil milhões de euros no ano passado, devendo redistribuir todo este valor em dividendos aos bancos centrais.