BPI: As mudanças e o futuro da nova sucursal do CaixaBank
CaixaBank investiu 664,5 milhões para tomar finalmente o controlo e avançar com o seu plano para o BPI. Saída de Fernando Ulrich marca fim de uma era
in: Dinheiro Vivo, 9 fevereiro 2017
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O BPI virou ontem uma “sucursal de um banco espanhol” graças ao sucesso da oferta pública de aquisição (OPA) do CaixaBank. A maioria dos acionistas do BPI, à exceção da Allianz, decidiram fugir em massa do banco e os catalães garantiram uma participação total de 84,52%. No total, a operação custou 664,5 milhões de euros ao grupo espanhol.
Os resultados da OPA foram apurados em sessão especial de bolsa na quarta-feira, adivinhando-se desde logo que a reduzida liquidez futura do banco iria significar a sua descida de divisão na bolsa lisboeta. Porém, a Euronext Lisboa adiou esse anúncio até ao final da conferência de imprensa conjunta das administrações dos dois bancos sobre a OPA.
Já antes também o BPI tinha esperado pelo apuramento dos resultados da oferta para revelar uma das maiores mudanças estruturais que a OPA acarreta no imediato: Artur Santos Silva vai sair e Fernando Ulrich troca a cadeira de CEO pela de chairman. Para o lugar de Ulrich virá o até agora diretor-geral do CaixaBank, Pablo Forero. “Na próxima vez já falarei em português”, assegurou Forero, ontem, na conferência de imprensa.
Sobre o fim da vida independente do BPI e a sua integração no grupo espanhol, Artur Santos Silva não poderia ter sido mais pacificador: “Não me preocupa nada ser uma sucursal de um banco espanhol, é uma instituição grande”, começou por responder depois de ‘provocado’ pelo facto da instituição que fundou ter acabado em sucursal. Mas o ainda chairman foi mais longe: “São os parceiros certos para melhor servirmos a economia portuguesa.”
Pouco antes já Fernando Ulrich tinha apontado que a OPA do CaixaBank foi uma “operação em família”, razão pela qual as mudanças a enfrentar não deverão ser pronunciadas. “O CaixaBank é nosso acionista desde outubro de 1995 e sempre nos apoiou. Esta foi uma OPA em família, lançada pelo que já era o maior acionista.” Sobre a sua saída de CEO, Ulrich disse que “o BPI deve ser liderado por alguém originário do grupo CaixaBank”, o que facilitará a transferência “de tudo o que é positivo e que o CaixaBank pode trazer”, explicou.
Do lado catalão foi Gonzalo Gortázar, administrador-delegado, que falou aos jornalistas. “São duas entidades que se complementam perfeitamente”, apontou. Em relação aos ganhos que o BPI terá, Gortázar defendeu que “o CaixaBank traz estabilidade e capital para a expansão do BPI, que assim terá melhores condições no rating e, logo, melhor financiamento”. Quanto a um eventual avanço sobre o Novo Banco, nada foi respondido.
Ao longo da conferência, o responsável do grupo catalão ainda garantiu que o BPI irá manter a estratégia seguida ao nível da redução de colaboradores e fecho de balcões, sem recorrer a despedimentos coletivos e sempre de “mútuo acordo”.
Afirmou ainda que os 900 trabalhadores identificados no prospeto da OPA como “excedentários” dizem respeito a um número “meramente indicativo”. Por fim, e em relação ao Banco de Fomento Angola, Gortázar explicou que o CaixaBank não irá decidir nada com pressa, realçando que as recomendações do BCE para o BPI sair do país africano não são vinculativas.
O que reserva o futuro do BPI
Numa operação desta natureza, as “sinergias” são a expressão que os investidores e analistas procuram logo conhecer em detalhe e estas, raras exceções, são sempre sinónimo de corte de pessoal. Esta OPA não foge à regra.
Ao longo do prospeto relativo à oferta, o CaixaBank faz várias as referências à situação atual do BPI, raramente abonatórias, em especial em relação à eficiência do banco.
“Sem prejuízo de nos últimos anos a Sociedade Visada ter feito um esforço muito destacável para melhorar a sua posição competitiva em Portugal, em particular em termos de redução de custos, é de esperar que a sua pertença a um grupo bancário de maior escala, como é o grupo do Oferente, permita alcançar maiores níveis de eficiência, produtividade e rentabilidade no contexto de um setor bancário doméstico mais competitivo e exigente”, aponta o grupo catalão no prospeto da OPA.
Segundo a mesma fonte, o CaixaBank estima que será possível obter sinergias de 84 milhões de euros anuais, ao nível dos custos e de 35 milhões de euros, do lado das receitas. Nos custos, mais de metade das sinergias chegarão de cortes no pessoal e balcões: os espanhóis querem baixar o rácio de gastos com pessoal/receitas do BPI de 44% para 35%, precisando para isso de cortar 900 trabalhadores do banco português, além de fechar mais 52 balcões.
BCE (e a Moody’s) recomenda sair de África
Além de detalhes sobre a OPA em si e os impactos que terá na realidade do BPI, no prospeto o CaixaBank revela ainda pormenores sobre o futuro do Banco Fomento de Angola (BFA), com o grupo catalão a admitir que foi recomendado pelo todo-poderoso Banco Central Europeu (BCE) a desinvestir totalmente no banco angolano, a maior fonte de resultados do grupo português – cerca de 70% do total.
Segundo informam os catalães, “o BCE emitiu, no documento que autorizou o CaixaBank a adquirir o controlo da Sociedade Visada através da presente OPA, uma recomendação não vinculativa ao Oferente para que reduza gradualmente a participação do BPI no BFA num período de tempo razoável”.
Sobre este ponto, Gonzalo Gortázar apontou ontem na conferência de imprensa sobre a OPA que a recomendação do BCE para o BFA “não é vinculativa” e que nada será feito de forma apressada. E lembrou que qualquer desinvestimento no banco angolano exigirá o respeito pelo acordo parassocial existente e que nada acontecerá sem conversações prévias com a Unitel, detida igualmente por Isabel dos Santos.
Apesar da posição pública do CaixaBank em relação ao BFA, para a Moody’s não há grande dúvida sobre o que reserva o futuro do banco angolano: “A Moody’s acredita que a perda de controlo do BFA aumenta a probabilidade do BPI reduzir a sua participação no banco angolano ainda mais, o que será positivo em termos de solvabilidade mas pode afetar severamente os indicadores de rentabilidade” do BPI, realçou a agência de rating a 18 de janeiro último.
Rácios e capital
Outro ponto focado ao longo da conferência de imprensa sobre a OPA foram as necessidades de capitalização do BPI. Se no prospeto da oferta o banco catalão fala que o banco precisava de emitir 350 milhões de euros em dívida subordinada, algo que para o CaixaBank iria surgir com um juro de “8 a 10%” que, em conjunto com o IRC de 29,5%, elevaria “o custo estimado anual após impostos desta emissão” para os 21 a 26 milhões de euros, ou seja “28% dos resultados domésticos do BPI em 2015”.
Contudo, e volvidas algumas semanas, este valor acabou revisto em baixa, culpa do fecho de contas de 2016 explicou Fernando Ulrich.
“Primeiro, os resultados no último trimestre foram melhores que pensávamos. Em segundo lugar, a rentabilidade do fundo de pensões foi mais elevada que o pensado e o fundo de pensões tem impacto nos rácios. Estas duas evoluções positivas permitiram que os 285 milhões fossem afinal 206 milhões, daí falarmos hoje em 225 milhões de euros, para ter folga.”
Além da redução do montante de capital que o BPI precisa de levantar para entrar em cumprimento com as exigências oriundas dos exercícios regulatórios chamados de SREP – de Supervisory Review and Evaluation Process – o CaixaBank anunciou igualmente que está pronto para subscrever na íntegra a emissão de dívida para que os custos financeiros associados à mesma sejam mais reduzidos.
A redução dos custos financeiros enfrentados pelo BPI foi, aliás, um dos pontos que Gortázar mais realçou em termos de vantagens que o banco terá depois de integrado no grupo CaixaBank: “O CaixaBank traz estabilidade acionista para o BPI e capital para expansão da atividade, melhores condições de ‘rating’ e, logo, melhor acesso a financiamento”, explicou.