Administrador que transitou da equipa de Domingues para a de Paulo Macedo já completou formação no INSEAD exigida pelo BCE
in: Dinheiro Vivo, 1 fevereiro 2017
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A nova administração executiva da Caixa Geral de Depósitos (CGD) toma posse hoje, tornando-se na quarta equipa em pouco mais de seis meses a liderar o banco público. O “ok” do todo-poderoso Banco Central Europeu (BCE) chegou a 25 de janeiro e uma semana depois os gestores tomam o seu lugar à mesa da administração da CGD.
Os atrasos registados ao longo da primeira metade de 2016 para a nomeação da equipa de António Domingues levaram o governo a pedir a José de Matos, CEO do banco desde 2011, para segurar as rédeas do grupo até final de agosto do ano passado. A luz verde do BCE à equipa de Domingues foi parcial e apenas chegou em meados de agosto, pelo que o mesmo só pode avançar para o banco em setembro. Mas o seu mandato acabou por durar menos tempo que o tempo que demorou a avançar para o mesmo: o ex-administrador do BPI foi convidado pelo governo no final de março, tomou posse cinco meses depois e saiu volvidos quatro meses.
António Domingues decidiu renunciar à presidência do banco público no final de 2016 e com a entrada do novo ano a CGD passou de forma transitória para as mãos de Rui Vilar que agora, com a entrada no segundo mês do ano, passa a responsabilidade para a nova gestão que, estima-se, deverá encerrar de vez esta novela: Paulo Macedo é um nome não só do agrado de Mário Centeno como também da oposição à direita, razão para crer que a dança das cadeiras pode acalmar e o banco normalizar a operação.
Além do ex-ministro da Saúde e ex-diretor geral dos Impostos, a gestão da CGD vai contar para já com Rui Vilar como presidente não executivo e seis administradores executivos: Francisco Cary, José de Brito, José João Guilherme, Maria João Carioca, Nuno Martins e João Tudela Martins, este último o único administrador executivo que ficou da equipa de Domingues.
João Tudela Martins foi um dos nomes envolvidos numa das polémicas mais singulares de todo este dossiê: apesar da longa experiência na banca, o BCE exigiu ao banco público que financiasse a frequência por este gestor de programas de gestão na escola francesa INSEAD.
“Aparentemente, o BCE considera que os administradores que não desempenhavam funções de administração no setor financeiro devem ter formação de administração não obstante a experiência que possuam no setor financeiro em cargos de alta direção. O BCE indicou mesmo ações de formação específicas e nomeou numa escola de gestão”, reagiu na altura Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado do Tesouro, ao “Dinheiro Vivo”. Apesar do desagrado com a exigência do BCE, a verdade é que segundo o currículo disponibilizado publicamente por João Tudela Martins a obrigação formativa imposta pelo BCE já foi cumprida.
Além deste gestor, outros dois responsáveis que entraram na CGD pela mão de Domingues e que ainda vão ficar na esfera do banco, ainda que por razões associadas à vontade de não lhes pagar indemnizações. Tiago Ravara Marques e Pedro Leitão, que poderiam ter direito a receber aproximadamente um milhão de euros com o fim repentino do mandato da equipa para a qual foram convidados, irão ser ‘desviados’ para empresas do grupo CGD, escreveu ontem o “Jornal de Negócios”. Ravara Marques e Leitão deverão migrar para empresas financeiras do banco, como a Caixa Gestão de Ativos, Caixa BI ou CGD Pensões.
Já com o plano de recapitalização de Domingues em curso, caberá à nova gestão da CGD dar prioridade ao fecho de contas de 2016, uma etapa essencial do plano, que prevê que o banco assuma várias centenas de milhões de euros em perdas no exercício de 2016, estimando-se que serão reportadas três mil milhões de euros em imparidades. Só depois de fechadas as contas é que o resto da capitalização poderá avançar, cabendo depois a Macedo dar a cara pela reestruturação que vai ser exigida à CGD.