Raio-X à banca: Rácios aquém de 2015, custos a subir e rendibilidade em queda
Recurso a financiamento dos bancos centrais atinge no terceiro trimestre “valor mais baixo desde o início do Programa de Assistência”, destaca BdP
in: Dinheiro Vivo, 27 dezembro 2016
A banca presente em Portugal fechou as contas do terceiro trimestre do ano com os níveis de rácios prudenciais ainda abaixo dos que apresentava no final do ano passado, continuando a sofrer igualmente com alguma incapacidade em reduzir o rácio de custos face às receitas e um ativo total em dieta, culpa da redução do crédito concedido.
O Banco de Portugal (BdP) atualizou hoje o raio-X trimestral que faz à evolução do setor bancário com os dados referentes ao terceiro trimestre de 2016, dando nota das dificuldades dos bancos em cortar os seus gastos operacionais e melhorar rácios. Pela positiva, o supervisor realça a redução do crédito em risco no balanço das instituições.
Iniciando com uma abordagem à evolução desde janeiro, o BdP destaca que ao longo de 2016 também a rendibilidade do sistema bancário não tem evoluído no sentido desejado pois, apesar de positiva, continua a decrescer.
“Apesar de ligeiramente positiva, a rendibilidade do sistema bancário nos três primeiros trimestres de 2016 decresceu em termos homólogos, devido, em grande parte, a uma diminuição expressiva dos resultados com operações financeiras, que tinham sido elevados no período homólogo”, refere o relatório sobre o sistema bancário português, hoje divulgado.
Ativos, recursos e crédito em risco
Segundo os dados compilados pelo supervisor, no final de setembro os bancos em Portugal apresentavam um ativo total acumulado de 399 mil milhões de euros, a grande maioria respeitante a crédito concedido. O valor compara com 405 mil milhões em junho e 413 mil milhões no final de 2015.
“A redução do ativo total do sistema bancário continuou no terceiro trimestre de 2016, suportada principalmente pelo crédito. Face ao final de 2015, o ativo total diminuiu 3,4% e o crédito 2%”, diz o BdP.
O terceiro trimestre ficou ainda marcado por nova redução na exposição dos bancos presentes em Portugal ao financiamento dos bancos centrais, com este a atingir no terceiro trimestre um peso de 6,5% no total dos recursos do sistema, “o valor mais baixo desde o início do Programa de Assistência Económica e Financeira”. No auge, a exposição aos bancos centrais chegou a pesar 12,5% do total.
A ligeiríssima redução do rácio de crédito em risco é outra das notas que o BdP destaca no raio-X à banca no terceiro trimestre do ano, destacando a redução em 0,1 pontos deste indicador, para 12,6%.
“A diminuição do crédito em risco reflete, sobretudo, os desenvolvimentos no segmento das sociedades não financeiras, no qual se conjugou uma diminuição do crédito em risco (efeito numerador) e um aumento do crédito (efeito denominador).”
No final de setembro, os bancos apresentavam um stock de imparidades para crédito de 8,2%, repetindo o valor dos dois trimestres anteriores.
Rendibilidade e custos
Apesar da prolongada dieta em que o sistema bancário português entrou nos últimos anos, a verdade é que o setor continua com problemas em conseguir controlar o peso dos custos em relação às receitas que vai gerando. “A redução dos custos operacionais nos três primeiros trimestres de 2016 não evitou o aumento do rácio cost-to-income“, resume o BdP.
É que se por um lado os custos operacionais da banca até se encontram este ano ligeiramente abaixo dos valores do ano passado – ainda assim ambas próximas dos seis mil milhões de euros -, já em termos de peso face às receitas os custos até cresceram ao longo de 2016, para a casa dos 60%.
Não é por isso de estranhar que a banca prossiga a lidar com dificuldades ao nível da rendibilidade que, “no conjunto dos primeiros três trimestres do ano”, sofreu “uma quebra substancial em relação ao período homólogo, mantendo-se, ainda assim, positiva”. A rendibilidade dos capitais próprios caiu de 3,8% para 1,3% e a dos ativos de 0,3% para 0,1%.
“A diminuição da rendibilidade continuou a ser determinada, principalmente, por uma redução significativa dos resultados relacionados com operações financeiras, que tinham sido expressivos em 2015.” Apesar disto, o BdP nota que a margem financeira do sistema bancário em Portugal até melhorou 5,8% entre janeiro e setembro deste ano, resultado “de uma redução dos custos com juros superior à diminuição dos proveitos com juros”.
Rácios melhoram mas aquém de 2015
“Os níveis de solvabilidade aumentaram ligeiramente no terceiro trimestre de 2016, devido, sobretudo, à redução dos ativos ponderados pelo risco”, começa por dizer o Banco de Portugal quanto aos rácios prudenciais com que os bancos estão vinculados. Contudo, e apesar da melhoria trimestral, em comparação com o final de 2015 o cenário é diferente.
“O rácio entre o capital Tier 1 e o ativo aumentou 0,2 p.p. no terceiro trimestre de 2016, refletindo a redução do ativo”, refere o banco central. No final do terceiro trimestre, o Tier 1 dos bancos face aos seus ativos era de 7,5%, valor que compara com 7,3% no trimestre anterior mas com 7,6% que o setor registava no final de 2015.
O mesmo cenário se verificou com o Common Equity Tier 1, que subiu de 12,1% para 12,3% do segundo para o terceiro trimestre, ainda aquém dos 12,4% do final de 2015.