Ofertas em cima da mesa variam entre a subscrição de aumentos de capital, sem qualquer encaixe para o vendedor, e o pagamento de 750 milhões de euros
in: Dinheiro Vivo, 17 dezembro 2016
A venda do Novo Banco vai ser fechada por valores bastante aquém do capital que foi movimentado pelo sistema financeiro e contribuintes para garantir a sobrevivência do banco de transição que saiu da resolução do Banco Espírito Santo (BES).
Em cima da mesa estão verbas que não chegarão sequer a 20% do valor emprestado pelos contribuintes ao Fundo de Resolução, de 3,9 mil milhões de euros, e isto nas ofertas que incluem pagamentos.
Na corrida pelo Novo Banco estão o grupo chinês Minsheng, os fundos Lone Star, Apollo e Centerbridge, e também BCP e BPI. Deste conjunto de interessados, os dois primeiros, Minsheng e Lone Star, surgiam à data de ontem como favoritos a tomar o controlo do ex-BES.
Será este favoritismo do grupo chinês que leva o Banco de Portugal, entidade responsável pela venda do Novo Banco, a admitir que a decisão final sobre o dossiê possa surgir apenas nos primeiros dias de 2017, apurou o Dinheiro Vivo, prazo pouco distante do objetivo de fechar 2016 com uma proposta escolhida.
Em causa neste adiar da decisão por alguns dias estarão as dificuldades encontradas pelo grupo chinês em apresentar as garantias financeiras exigidas em tempo útil. Não adiar o prazo poderia implicar que o BdP ficasse apenas com uma oferta em cima da mesa, perdendo alguma margem negocial perante propostas já elas pouco atrativas – a preferência do supervisor em todo este processo tem sido o de defender a sua margem negocial mesmo que a custo de uma decisão mais acelerada.
A proposta do Minsheng é a única que concorre pelo segundo modelo de venda previsto no caderno de encargos, ou seja, a tomada de uma participação ao invés da compra dos 100%.
Este grupo terá colocado em cima da mesa uma oferta que passa pelo avanço de um aumento de capital de 750 milhões de euros como contrapartida de tomar 55% da instituição, segundo escrevia ontem o Eco. Esta oferta não prevê qualquer pagamento ao Fundo de Resolução. Já a Lone Star, e de acordo com as notícias avançadas também ontem, terá proposto 750 milhões de euros para ficar com 100%.
Os dois valores estão longe dos 4,9 mil milhões de euros que custou a criação do Novo Banco ao Fundo de Resolução – e não chegam a 20% dos 3,9 mil milhões emprestados.
Em relação aos restantes candidatos que apresentaram propostas pelo ex-BES, a oferta de Apollo e Centerbridge foi colocada abaixo das duas anteriores, à imagem do que aconteceu com as manifestações de interesse apresentadas por BCP e BPI, que estão praticamente fora da corrida, conforme avançou o Dinheiro Vivo.
Mas se, por um lado, o Banco de Portugal admite adiar ligeiramente o prazo para uma decisão e assim não ver cair um dos favoritos ao Novo Banco, por outro este adiamento pode representar a queda de um outro candidato. Segundo o Negócios, a oferta apresentada pela Lone Star só é válida até 4 de janeiro, pelo que passado este prazo a proposta pode sair da mesa, sobrevivendo apenas à do Minsheng, e caso estes venham a assegurar entretanto as garantias.
Contas às perdas
A criação do Novo Banco exigiu 4,9 mil milhões de euros ao sistema financeiro, dos quais 3,9 mil milhões emprestados pelos contribuintes. O encaixe direto da venda, a existir, serviria para abater parte do empréstimo. Mas é já óbvio que as duas melhores ofertas em cima da mesa estão bastante aquém destas ordens de grandeza, pelo que o grosso do empréstimo dos contribuintes terá de ser pago quase na íntegra pela banca.
Este reembolso, no entanto, vai demorar bastante: o governo alterou recentemente as condições do empréstimo, prolongando-o quase sine die, de forma a garantir que as prestações pagas por cada banco se mantêm sempre ao mesmo nível – evitando que o custo de salvação e entrega do banco a privados crie mais instabilidade ao setor.