Krugman aponta que o interesse do grupo empresarial de Donald Trump poderá acabar por ser mais determinante nas políticas que o interesse do país
In: Dinheiro Vivo, 21 novembro 2016
Paul Krugman, economista galardoado com um Nobel, alertou hoje os norte-americanos para o “nível de corrupção sem precedentes” que a chegada de Donald Trump à Casa Branca pode representar no futuro. Estes alertas foram lançados esta segunda-feira através de vários “tweets”.
Segundo a perspetiva do economista, o gigantesco plano de investimentos em infraestruturas planeado pelo presidente-eleito será um dos maiores portões de entrada para este nível de corrupção que antecipa. “Estamos prestes a entrar, se é que já não entrámos, numa era de governação corrupta sem precedentes na História dos Estados Unidos da América”, escreveu.
O plano de investimento previsto por Trump para o reforço das infraestruturas norte-americanas está avaliado em perto de 550 mil milhões de dólares, uma verba aliciante e que o novo presidente deverá colocar ao dispor de associados ou até de empresas em que, direta ou indiretamente, detém interesses. Para Krugman, basta uma ligeira fatia desta verba para a família puxar para si “10 mil milhões de dólares” sem que alguém repare sequer.
“Esperem que verão um enorme rol de privatizações e uma mudança do regime de transparência para um mais nebuloso em que os favores são livremente trocados”, acrescentou o Nobel nesta espécie de “ataque preventivo” à presidência de Trump.
Além da “pequena fatia” que as empresas de Trump poderão vir a reclamar do vasto plano de infraestruturas e privatizações, Krugman alertou que o próprio interesse do universo empresarial do presidente-eleito poderá acabar por determinar algumas políticas, mais do que o próprio interesse do país: “Mais grave ainda é a distorção da direção das políticas que podem ser monetizadas.”
Têm sido várias as questões levantadas a propósito dos conflitos de interesse potenciais que significa ter um Presidente que é igualmente dono de um vasto complexo empresarial – ou a sua família. Em casos semelhantes, explica a “Business Insider“, quem se encontra nesta situação acaba por ceder a gestão das empresas a um Fundo anónimo. Já Donald Trump optou por passar a gestão… aos seus filhos.
Além da preocupação com o potencial de corrupção que estes conflitos de interesse podem representar para os EUA, Krugman tem vindo a alertar igualmente para o facto de Trump favorecer regimes menos democráticos ao nível da política externa, regimes esses igualmente mais dados à “troca de favores”.
“Os regimes democráticos, por exemplo na Europa, têm as suas próprias regras que impedem luvas ou subornos”, explicou. “Contudo, a Rússia de Putin, ou até a China de Xi, não terão quaisquer problemas em garantir grandes contratos ao Presidente-aproveitador. E isso vai empurrar a política externa dos EUA para estes regimes mais autoritários.”