Plano orçamental aponta para subida de 1,5% nas remunerações médias, abaixo da média do euro. Países comparáveis verão salários saltar de 3% a 7%
in: Dinheiro Vivo, 22 outubro 2016
As remunerações por trabalhador em Portugal vão evoluir, no próximo ano, a um ritmo que será o quarto mais baixo de toda a zona euro, de acordo com as previsões presentes nos planos orçamentais de 18 países, esta semana entregues em Bruxelas – só a Grécia, ainda alvo de um programa de ajustamento, está isenta de entregar este documento.
No documento enviado à Comissão Europeia, o governo de António Costa antecipa uma subida de 1,5% nas remunerações médias por trabalhador no próximo ano, um valor idêntico ao previsto para este ano. Mas como os valores da maioria dos países aceleram de 2016 para 2017, a manutenção do ritmo de evolução das remunerações é insuficiente para impedir o agravar da divergência face à evolução do valor do trabalho no resto da zona euro.
Em 2016 as previsões da região apontam para uma subida média de 2,25% nas remunerações por trabalhador – mais 0,75 pontos que na economia portuguesa -, média que, em 2017, já é de 2,5%- mais 1 ponto. A divergência em 2017 será então superior à verificada este ano. Tanto que em 2016 a subida de 1,5% nas remunerações por trabalhador em Portugal foram as sextas mais baixas, caindo para a quarta pior subida no próximo ano.
Os planos orçamentais dos países do euro mostram que há apenas três países que antecipam uma evolução das remunerações inferiores às que vão ocorrer na economia portuguesa em 2017.
Nesta situação estão Finlândia (-0,1%), Itália (1,2%), Espanha (1,2%) e Chipre (1%), países que todavia contam com remunerações médias por assalariado já mais elevadas que as praticadas em Portugal – neste campo a única destas economias comparável à portuguesa é mesmo a cipriota.
Reportando a valores reais apurados até 2015, os planos orçamentais agora entregues mostram que na Finlândia a remuneração média é de 42 mil euros brutos, em Itália de 39,9 mil euros e no Chipre de 24,4 mil euros. Na economia portuguesa, a média apurada em 2015 está nos 20,2 mil euros.
Mais próximos da cauda
Assim, olhe-se para cima – países com médias remuneratórias mais altas – ou para baixo, os trabalhadores portugueses dão por si em posição pouco invejável. Os de cima estão a afastar-se, os de baixo a aproximar-se cada vez mais depressa. A Alemanha, por exemplo, estima uma subida de 2,4% no ganho médio dos trabalhadores em 2017, a Irlanda de 2,7%, os franceses de 1,7%, os holandeses de 2% e no Luxemburgo o salto será de 3,3% – grupo a que poderíamos juntar a Áustria e a Bélgica.
E se o grupo dos países com as médias remuneratórias mais elevadas continua a afastar-se dos registos portugueses, o conjunto de países com as médias mais baixas continua a aproximar-se a passos largos dos salários nacionais e a convergir com a restante moeda única. Vejamos os casos de Malta, Eslovénia, Eslováquia, Estónia e Lituânia.
No final de 2015, Malta apresentava uma remuneração média por trabalhador de 19,8 mil euros, bem próxima dos 20,2 mil euros da economia portuguesa. Mas aos 1,5% de subida anual prevista por Portugal neste indicador tanto este ano como no próximo, os malteses respondem com um salto anual de 2,8%, devendo por isso chegar ao final de 2016 com um valor médio idêntico ao português – e que facilmente ultrapassarão no próximo ano.
Depois segue-se a Eslovénia: a remuneração média por trabalhador no final de 2015 era de 18,9 mil euros nesta economia, com o governo local a estimar o crescimento de 2,7% nas remunerações este ano e de 2,5% no próximo. Já na Estónia, falamos numa média de 15,2 mil euros que terá subido 5,1% ao longo deste ano, acelerando ainda mais em 2017, para 5,2%.
Ainda mais pronunciada é a aceleração das remunerações médias por assalariado na Lituânia. Com 13 mil euros de remuneração no final de 2015, os trabalhadores no país terão assistido a um salto de 5,9% nas remunerações durante este ano que, no próximo, atingirá os 6,2%.
Considerando estes ritmos acelerados de evolução de remunerações nos países que, pelo menos até 2015, apresentavam médias inferiores às contabilizadas para Portugal, antecipa-se que o valor do trabalho por cá será muito em breve ultrapassado por quase todos estes casos analisados. Sinal de que estas economias estão a convergir com a média e que Portugal está a ficar para trás.
E o “efeito emprego”?
Uma das razões que poderia justificar a evolução das remunerações médias portuguesas abaixo da maioria dos países do euro poderia estar no facto da economia registar um salto mais elevado que os demais no emprego total de um ano para o outro, já que a criação de muito emprego pode conter a evolução das remunerações médias – esta seria pelo menos uma forma de ver um copo “meio cheio”. Mas não é esse o caso.
O governo socialista antecipa um salto de 1% no emprego em Portugal, valor muito em linha com as previsões dos restantes países. Aliás, nos casos atrás referidos, a Eslováquia (1,5%), Eslovénia (1,4%) e Malta (2,7%) preveem criar mais emprego em 2017 que Portugal – a Estónia já antecipa um recuo (-0,1%) e a Lituânia um salto de apenas 0,8%.
Quanto aos países do primeiro grupo identificado – Alemanha, França, Irlanda, Holanda e Luxemburgo – a situação é parecida. Os alemães preveem igualmente um salto de 1% no total de empregos oferecidos pela economia, enquanto irlandeses e luxemburgueses apontam para saltos de 2,1% e 3,2%, respetivamente. Já a França e a Holanda antecipam níveis ligeiramente inferiores de criação de emprego no próximo ano, de 0,7% em comparação com 1% em Portugal.