Consolidação na banca é a única saída da crise, diz Ulrich ao PS

Banca. Socialistas abriram portas ao setor bancário para recolher ideias. BPI pede consolidação, Montepio criticou espanholização

in: Dinheiro Vivo, 4 maio 2016

O presidente do BPI defendeu ontem na sede do Partido Socialista, que a única forma de os bancos contrariarem os cinco fatores estruturais que ameaçam o setor passa pela “redução do número de concorrentes” através da consolidação, algo que não é exclusivo de Portugal e num movimento que, considerou, “já é inexorável”.

Fernando Ulrich, que nem há uma semana revelou que “vota sempre no PSD”, foi um dos convidados do primeiro encontro promovido pelo Partido Socialista para a preparação do congresso nacional de junho, tendo nesta primeira ocasião debatido o setor bancário português.

Perante uma plateia socialista, o líder do BPI defendeu a construção de um setor bancário à imagem do setor elétrico. Ou seja, com proteção dos investimentos, da rentabilidade e dos investidores. Só assim a banca poderá ser “tão sólida e segura como o sistema elétrico mas isto passará por muito mais regulação, daí a necessidade de um crescimento da supervisão”, detalhou. E reforçou: “Para viabilizar tudo isto, não tenham dúvidas, vai haver mais consolidação e esta tendência é inexorável e para as populações, provavelmente, vai ser o melhor.”

Cinco ameaças estruturais

Respondendo ao desafio apresentado pelos socialistas, Fernando Ulrich enumerou à plateia as cinco ameaças estruturais que a banca passou a enfrentar nos últimos anos. A começar pela descida agressiva das taxas de juro, uma redução que teve “consequências muito significativas para a atividade bancária”, já que dizimou as margens financeiras destas sociedades. Como segunda ameaça estrutural, nomeou a “redução dos ativos nos balanços dos bancos, designadamente ao nível da carteira de créditos, algo que aconteceu em toda a zona euro”, referiu. “Houve um reconhecimento generalizado que o grau de alavancagem das economias era excessivo e havia que corrigir isso.” Este excesso obrigou também ao apertar dos créditos à economia, que, antecipa Ulrich, não terá retorno: “Não vamos voltar tão cedo aos volumes de crédito que os bancos chegaram a ter nos seus balanços”, realçou na sua intervenção.

A redução dos juros pagos pelos contribuintes através dos títulos da dívida pública e o aumento das regras e normas exigidas pela supervisão bancária, que acarretam mais custos para os bancos, foram outras das ameaças estruturais identificadas por Ulrich, que acrescentou mais uma à lista, o aumento da concorrência de não bancos. “Com as inovações tecnológicas surgiram uma série de entidades que estão a tentar, com sucesso, entrar em determinadas partes do negócio”, explicou o líder do BPI.

Espanha vai afetar concorrência

A resposta a Fernando Ulrich chegaria mais tarde, já no segundo painel da conferência promovida pelo PS. Ao “inexorável” movimento de consolidação que deverá resultar na criação de um setor como o elétrico, Luís Filipe Costa, administrador do Montepio Investimento,  bateu o pé, pedindo à plateia que não se considere “inexorável” que a banca acabe com uma “concentração como a do setor elétrico”.

O responsável do Montepio puxou ainda para a mesa a polémica da “espanholização” da banca portuguesa, alertando para riscos que a seu entender não estão a ser olhados com o devido peso. “Não é indiferente se a concentração na banca for para um país concorrente ou de outra economia”, alertou. E deu um exemplo: “Quando os bancos portugueses tiverem os seus conselhos de crédito em Madrid ou Barcelona e nesses conselhos surgirem pedidos de financiamento de empresários portugueses e espanhóis do mesmo setor é expetável que haja um grau de preferência pelas empresas do próprio país, até porque vai haver pressões para que tal aconteça”, explicou ao PS. Apontou então que vê como muito arriscado colocar a banca nas mãos “de um país com setores altamente concorrenciais aos nossos”.

Dinheiro difícil e mais barato

Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, foi outro dos responsáveis convidados pelo PS para falar na conferência. “Vive-se um contexto particularmente difícil para a melhoria da rentabilidade do sistema financeiro”, detalhou aos socialistas. Admitiu que a situação da banca, “com crescente pressão nas contas e rentabilidade diminuída”, exige “a entrada de capital por parte dos investidores”, ainda que num contexto adverso. “Os bancos estão a procurar reduzir custos de funcionamento mas em compensação surgiram novos e pesados custos, com a regulação e supervisão, mas também os que se estimam com a resolução do BES ou Banif”, apontou ainda.