‘Não’ de Hollande levou alemães a usar “Grexit” como ameaça para forçar acordo. Já o fundo de privatizações seria armadilha de Schaüble a Tsipras
Angela Merkel, chanceler alemã, sugeriu a expulsão temporária da Grécia da moeda única ao presidente francês, François Hollande. A proposta surgiu no dia seguinte ao referendo realizado por Atenas à hipótese de negociar um terceiro resgate com os credores europeus.
Os gregos votaram maioritariamente contra o acordo que então estava em cima da mesa, com o “Oxi” a recolher 61% dos votos.
Segundo noticia esta segunda-feira o “Ekathimerini“, Merkel e Hollande encontraram-se em Paris a 6 de julho, tendo a alemã durante o jantar com o chefe de Estado francês sugerido a expulsão temporária por cinco anos de Atenas da zona euro.
Hollande ao longo da negociação daquele julho entre Europa e Grécia mostrou-se um dos mais fortes aliados dos gregos, tendo chumbado a ideia da chanceler alemã e de Wolfgang Schaüble. O plano alemão de expulsar a Grécia foi desenhado pelo ministro das Finanças alemão, tendo sido inicialmente denunciado por Yannis Varoufakis.
Agora, e segundo o diário grego, a ideia não só existia como os alemães apalparam o terreno antes de sugerirem publicamente a mesma – o que ocorreu a 11 de julho.
“Hollande não lhe diz ‘não’ muitas vezes, por isso quando o diz ela [Merkel] sabe que ele está mesmo a traçar uma linha vermelha”, relata uma “fonte com conhecimento direto do caso” ao “Ekathimerini”. A chanceler alemã, diz a mesma fonte, não insistiu mais com a ideia. Mas a ameaça serviu para forçar o terceiro resgate a Tsipras.
Da ideia, à ameaça
“Merkel discutiu posteriormente a saída da Grécia do euro com o vice-chanceler Sigmar Gabriel e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmein a 9 de julho. Os três políticos terão concordado em usar a ideia como forma de forçar o governo grego a aceitar um novo resgate no Eurogrupo que se seguiria”, adianta o mesmo diário.
Foi esta a razão para Thomas Steffen, representante alemão no grupo de trabalho do Eurogrupo, para incluir a ideia de expulsar a Grécia num email preparatório da reunião de dia 11 que enviou aos seus congéneres europeus.
Além disto, foi neste mesmo email que surgiu a ideia de impor a criação de um fundo que absorvesse 50 mil milhões de euros em ativos gregos para futuras privatizações, fundo esse que seria sedeado no Luxemburgo e liderado por um banco detido por capitais públicos alemães.
Este email, conclui então o “Ekathimerini”, foi assim bem além das negociações entre Merkel, Gabriel e o MNE alemão, “tal como a forma como foi utilizado por Schauble, que visava forçar a Grécia a optar pela saída do euro no Eurogrupo de 11 de julho”.
“O que nos chocou mais”, no email e nas suas ideias, “foi as condições que definia para a Grécia ficar no euro”, aponta fonte alemã próxima das negociações ao jornal grego. “Era tão humilhante que só parecia ter como objetivo que os gregos não o aceitassem.”
in: Dinheiro Vivo, 22 fevereiro 2016