A queda da direcção de informação da Lusa a um mês de eleições e a pouco mais de duas semanas do início da campanha deixou editores da agência “incrédulos”
A pouco mais de um mês das eleições e a meras duas semanas do arranque da campanha eleitoral para as legislativas de 4 de Outubro, o anúncio da substituição da direcção de informação da agência Lusa levantou alarmes, sobretudo no lado socialista, mas também na própria redacção da agência. Pouco depois de Paulo Rangel elogiar o “ar que se respira” no país, trazendo Sócrates para a campanha, questiona-se agora a qualidade desse ar.
“Não entendo a justificação para a substituição nesta altura. Fica a interrogação do ‘porquê’”, comentou Inês de Medeiros, deputada socialista da comissão parlamentar de ética e comunicação. “Todas as alterações e nomeações do governo têm sido surpreendentes”, referiu ainda ao i, sublinhando estar à espera que surja “uma justificação menos vaga” do que a apresentada até agora.
A notícia sobre a demissão da direcção de informação da agência foi ontem conhecida através da própria agência Lusa, que divulgou a nota enviada à redacção por Fernando Paula Brito, director da Lusa desde 2011 e que ontem foi afastado. Nessa nota, Fernando Paula Brito adiantou que a administração da Lusa o tinha informado da “decisão de realizar uma alteração na estrutura que inclui a mudança do director de informação”. Na sequência do afastamento do director, os adjuntos – Nuno Simas e Ricardo Jorge Pinto – também se demitiram.
Da redacção da Lusa, veio uma tomada de posição dos editores, que ainda ontem fizeram chegar à administração uma carta a manifestar “incredulidade perante o momento escolhido” para a alteração, considerando “inapropriado que se efectue uma alteração na direcção de informação da Lusa nesta conjuntura” e lamentando “a fragilização da imagem da Lusa”, segundo citou o “Observador”.
Teresa Marques, presidente da administração da Lusa, em declarações à própria Lusa justificou a demissão com o facto de procurar um perfil diferente para aquela direcção, com “outros requisitos em termos de experiência de gestão e controlo orçamental que antes não eram tão vistos na função”. Teresa Marques foi a escolhida por Miguel Poiares Maduro para substituir Afonso Camões na Lusa em Novembro de 2014, nomeação oficializada em Janeiro. A demissão do director de informação surge assim oito meses depois da nomeação de Marques para liderar a Lusa.
O hiato temporal entre a nomeação de Teresa Marques e a demissão do director de informação a poucos dias do início da campanha é também questionado por Inês de Medeiros. “Porquê nesta altura? A nova administração já entrou há tempo suficiente para ter tomado estas decisões”, comentou ao i, salientando então que irá esperar pela apresentação de razões “menos vagas” para o caso.
Ainda nas mesmas declarações à Lusa, Teresa Marques abordou desde logo esta questão das eleições. “Esta direcção de informação continua em funções até 5 de Outubro, porque queremos que toda a gente perceba que não é um movimento político, mas de reorganização interna e de gestão”, declarou à agência que preside, acrescentando que se a mudança acontecesse depois das legislativas “iam dizer que, mais uma vez, na Lusa se mudam os directores de informação quando muda o governo”. Desta forma, a direcção fica já definida ainda antes do novo governo tomar posse, seja ele PAF ou PS.
Também António Galamba veio a público questionar a inocência das demissões na Lusa em vésperas de eleições. “O ‘ar que se respira’ de Paulo Rangel e este mau prenúncio…”, começa por dizer o socialista da anterior direcção de Seguro. “Não sei quais são os fundamentos e espero que sejam tornados públicos, mas mexidas na direcção de informação da agência Lusa a um mês das eleições são um mau prenúncio…”, reflectiu na sua página de Facebook. Já Poiares Maduro recusou a existência de qualquer intervenção política na decisão, referindo ter pedido às entidades que tutela “para não tomarem decisões que pudessem ser vistas como interferindo na campanha”.
O director demitido estava no cargo desde Agosto de 2011, quando foi substituir Luís Viana – nomeado por Sócrates – por decisão do executivo.
in: Jornal i, 3 Setembro 2015