Em Janeiro de 1961, o “Diário de Lisboa” dedica duas páginas a explicar esse fenómeno musical que conquistava cada vez mais audiências, de seu nome “rock and roll”. As sonoridades frenéticas assustavam os ouvidos mais conservadores, de tal modo que ainda o rock andava a tentar perceber para onde iria, e já se anunciava a sua total decadência que, afinal, não era mais que a decadência dos seus ouvintes.
O jornal conta-nos então que o rock tinha nascido “há exactamente cinco anos e dois meses”, situando o nascimento do novo estilo musical quando “o cantor Tony Bennet entrou em cena com a pequena orquestra de Red Prysock” que aos primeiros acordes lançou a audiência num tumulto: “Após os gritos e os assobios, vieram os urros.”
A vida do rock and roll já então tinha os dias contados, até porque “não trouxe nada de muito novo” e as suas composições assentam em “harmonias de delirante monotonia”. O jornal salienta até que “os americanos estão-se desprendendo progressivamente do ‘rock and roll’, que para eles já não exprime o ritmo da hora presente. Outra música nova deve estar prestes a surgir”.
“Como nasceu o Rock“; “A histeria colectiva“; “Os ‘rythm and blues‘”; “‘Rock around the Clock“; “A decadência do rock” são os cinco esteios desta reportagem sobre um estilo musical que provoca “uma verdadeira descarga nervosa” e que leva homens e mulheres “a rebolarem-se pelo chão”, sendo que até “havia quem arrancasse do solo as cadeiras e as arremessasse ao ar”.
E o que diz do “porquê” do sucesso em que se tornou rock?
“O rock and roll ou rock n’ roll, como passou depois a abreviar-se, parecia vir satisfazer uma ânsia de ritmo paroxístico, mescla de sensualidade, violência e ansiedade, experimentada por uma juventude trepidante e fortemente traumatizada pela velocidade da vida na grande metrópole americana.”
“Fortemente traumatizada pela velocidade da vida…” Nada como viver num país pequeno, honrado e sem grandes modernices, certo?
Mas a verdade é que esta é uma moda musical…
“(…) que nada traz de muito novo, nem de muito válido para a evolução do jazz. Caracteriza-se por um ritmo pesado, muito acentuado e de uma frenética rapidez. Os seus temas apoiam-se por via de regra, em harmonias do ‘blue’, repetidas com a insistência de uma delirante monotonia.”
Não é assim estranho que o rock seja “bem mais fácil que os finais de trompete, por exemplo, dos grandes ‘jazzmen’, capazes de levarem o som ao rubro”. Mas apesar de tudo, o rock até tem bons executantes, “pois os há, apesar de tudo, com certo nível artístico.”
Exemplos? Elvis Presley e Paul Anka, “que encaram o desvario contagioso e furor, a entrega dionisíaca que se pretende seja a pura expressão do ‘rock'”.