FMI, BCE e CE começaram o dia com ultimato à Grécia e Tsipras acabou o dia a pedir “que não se subestime até onde um povo pode ir quando é humilhado”
O dia foi mais um fiasco em termos negociais mas de muitos frutos para quem estiver a apostar na queda da Grécia. Desde logo pela novidade: os credores, leia-se FMI, BCE e CE, fizeram um ultimato ao governo grego. “Ou apresentam uma proposta trabalhável até às 11h ou a nossa proposta avança para o Eurogrupo.” Eram quase 11h e o recado nem dez minutos dava aos gregos para fazer a tal “proposta trabalhável”, segundo os jornalistas do “The Guardian” e os do “Financial Times” encarregues do acompanhamento do dia.
Este ultimato foi visto como um sinal da frustração em que resultaram as conversas tidas entre os credores e Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, na madrugada de quarta para quinta-feira. A proposta dos credores acabou por avançar para o Eurogrupo mas de pouco serviu. Sem um projecto de acordo entre as partes a reunião dos ministros das Finanças do euro não tinha nada para validar ou discutir – outra vez. A reunião, que já tinha sido suspensa na quarta-feira, voltou a ser suspensa, sendo reagendada para amanhã de manhã.
As propostas À proposta inicial da Grécia houve uma contraproposta dos credores, ontem revista para a versão que foi apresentada como ultimato. Entre as duas versões, houve alguma aproximação mas em pontos menos quentes. Salientando apenas alguns: os credores já admitiam a taxação a 30% do jogo e a existência de uma taxa de IVA reduzido, de 6%, mas apenas para um leque limitado de produtos. Passaram também a admitir a venda de licenças 3G e 4G e a cobrança de impostos sobre a publicidade na TV.
Corte acelerado Já ao nível das pensões, FMI, BCE e CE continuam a pedir um corte mais acelerado nos complementos pagos aos pensionistas com reformas mais baixas, insistindo que a restauração tenha um IVA de 23%, e na intenção de acabar com o IVA reduzido nas ilhas gregas. Já das propostas do governo grego, a cobrança de um imposto pontual de 12% sobre as empresas com mais de 500 mil euros de lucro ou a intenção de subir para 29% o IRC continuaram sem ser aceites pelos credores.
As Ameaças A proposta e a postura assumida pelos credores levaram os gregos a elevar igualmente o tom. Panos Skourtelis, ministro do Trabalho, acusou os credores de quererem “diminuir a autoridade do governo”, salientando que sem um caminho definido para resolver a dívida “nada que passe pela redução de salários e pensões será assinado”. Ao longo do dia multiplicaram-se recados do género, com os gregos a mostrarem-se cada vez menos dispostos a assinar seja o que for.
Já no final do dia, novo episódio a complicar o dossier: segundo vários relatos citados pelos meios internacionais, na reunião de líderes europeus, Tsipras pediu maior “respeito pela vontade expressa pelos eleitores gregos”, ao que terá levado com uma resposta seca de Donald Tusk: “Game Over.” A posição do presidente do Conselho Europeu levou Tsipras a deixar um alerta: “Temos 1,5 milhões de desempregados, três milhões de pobres e milhares de famílias sem rendimentos… isto não é um jogo. Não subestimem até onde um povo pode ir quando é humilhado.”
in: Jornal i, 26 Junho 2015
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