Paes do Amaral ainda não riscou hipótese, podendo avançar com o empresário que foi chumbado nos EUA por razões de segurança.
Desde o ano passado que têm vindo a somar-se nomes à lista de interessados na corrida pela privatização do grupo TAP, processo que em 2012, quando cancelado à última hora, apenas teve uma proposta, de Germán Efromovich, o empresário das múltiplas nacionalidades:nasceu na Bolívia, é colombiano, naturalizado brasileiro e polaco. Em 2012 perdeu a corrida sozinho ao não ter assegurado as garantias no formato exigido pelo governo e este ano deverá voltar a tentar avançar para a companhia portuguesa. Mas, desta feita, não estará sozinho.
Esta sexta-feira ficará a saber-se quantos dos interessados avançam com propostas firmes para ficar com a transportadora portuguesa, numa privatização que deverá resultar num encaixe reduzido – fala-se em valores inferiores a 50 milhões. As necessidades de capitalização daTAP e a dívida de sensivelmente 1,1 mil milhões de euros têm sido as justificações apresentadas para o limitado encaixe que a venda terá. O eleito para ficar com a companhia deverá ter de gastar cerca de 700 milhões de euros entre a capitalização do grupo e do seu fundo de pensões, recebendo em troca uma companhia que factura 2,8 mil milhões de euros anuais e que, nos últimos seis anos, acumulou lucros de 139 milhões de euros no transporte aéreo. Estes ganhos foram dizimados pela prestação dos restantes segmentos, comoa manutenção no Brasil, que entre 2009 e 2014 trouxe perdas de 247 milhões de euros. Também a assistência em terra acumulou perdas nestes seis anos, mas inverteu a tendência nos últimos dois, com ganhos superiores a dois milhões de euros tanto em 2013 como em 2014.
Norol de interessados já apontados, e além de Efromovich, dono da Avianca, encontram-se outros grupos já integrados na aviação, como a Globalia, que detém a Air Europa, e David Neeleman, dono da transportadora aérea brasileira Azul. Neste grupo de interessados com know-how no sector podemos ainda incluir outros dois nomes:Miguel Paes do Amaral e o fundo de investimento Greybull, que no ano passado fechou a aquisição da Monarch Airlines.
No caso do empresário português, o know-how que Pais do Amaral oferece à TAP vem de Frank Lorenzo, gestor que, todavia, foi chumbado pelos reguladores de aviação norte-americanos em 1994, ano em que quis regressar à aviação depois das experiências na Eastern e Continental. Mas a Federal Aviation Administration chumbou a intenção, já que “os registos recolhidos mostram que ambas as companhias [Eastern e Continental] experimentaram dificuldades laborais, operacionais e de manutenção que ficaram entre as mais graves da história da aviação dos EUA”. As autoridades concluíram que Lorenzo “não é fiável para manter operações de forma prudente”, lembrando que “não podemos deixar que o nosso desejo de mais concorrência, novas entradas, investimento e escolhas para o consumidor ultrapasse a nossa responsabilidade por garantir que todas as companhias são adequadas”. Mais tarde, Lorenzo foi igualmente vetado na espanhola Iberia.
Já a Greybull entrou na aviação no ano passado, com a aquisição da Monarch, através da injecção de 125 milhões de libras na empresa. Seguiu-se uma transformação na transportadora:reduziu a frota de 42 para 34 aviões e avançou com a mudança da empresa para 100% low-cost, caindo o ramo de voos charter. Com os trabalhadores foi negociado um corte de 30% nos salários, além da saída de 700 a 1000 colaboradores, até um terço do total. A Greybull avançou igualmente com a encomenda de 30 Boeing 737 novos, negócio avaliado em quase dois mil milhões de euros.
A lista dos interessados na TAP que foram sendo avançados termina com mais dois fundos de risco, o Cerberus Capital e o Apollo Global Management. Os dois fundos estão igualmente na corrida pelo Novo Banco, já que a sua especialidade é a tomada de capital em empresas em dificuldades. No caso daApollo, este fundo ficou recentemente associado ao polémico processo de falência da Caesars Entertainment, dona do casino Caesars Palace em Las Vegas:o Apollo entrou na Caesars em 2008 e a empresa, até ao ano passado, ficou atolada em dívidas de 25 mil milhões de dólares. Para não perder o Caesars, o fundo de investimento interessado na TAP e no Novo Banco criou uma nova empresa a quem vendeu os “bons activos” da Caesars, deixando os “maus activos” na empresa original, que assim ficou totalmente incapacitada de pagar dívidas a credores e aos mais de 68 mil empregados. Os processos em tribunal acumularam-se.
in: Jornal i, 13 Maio 2015