O Sindicato dos Pilotos acusou ontem a TAP de ter tentado tirar proveitos da postura negocial que apresentou.
Ao início da noite de ontem, os pilotos da TAP e da Portugália puseram o ónus no governo e na administração da empresa. Às 20h10, a hipótese de cancelamento da paralisação“está na mão do governo e da TAP”, garantiu Hélder Santinho, dirigente do Sindicato dosPilotos de Aviação Civil (SPAC), depois de uma reunião de última hora entre esta organização e a gestão de Fernando Pinto.
Esta reunião, noticiada como um último esforço para evitar a paralisação que os pilotos marcaram para começar esta madrugada estendendo-se até 10 de Maio, não só não serviu para o tal entendimento, como terá caído mal junto dos pilotos, sobretudo por causa da postura da administração daTAP: “Informámos a administração da TAP que não iríamos negociar como eles estão acostumados, com posturas de extremar posições. Aproximámo-nos o mais possível da posição da TAP, mas a empresa encarou isso como um sinal de fraqueza da nossa parte e tentou retirar benefícios e ficou irredutível”, referiu.
Reconhecendo que uma “greve nunca é oportuna”, pois “causa sempre prejuízos a clientes, accionista e trabalhadores”, Santinho lembrou que, perante a “intransigência do governo”, os pilotos não vêem alternativa, assegurando que “cá estaremos para assumir as responsabilidades”. Os pilotos recusam continuar a pagar pelos erros de gestão cometidos por Fernando Pinto, como os 287,3 milhões de euros de perdas provocadas pelo ramo de manutenção da TAPno Brasil, aposta de Pinto. Este negócio foi responsável por mais de metade dos prejuízos da TAP entre 2008 e 2014.
Ontem à noite, depois de o sindicato ter marcado a conferência de imprensa para as 20h, o ministro da Economia agendou uma declaração para as 20h30. Ao contrário dos pilotos, o ministro não aceitou perguntas. “Isto não é uma chantagem:a greve terá efeitos muito negativos para a sustentabilidade económica e financeira da TAP”, declarou Pires deLima. O governante ainda manifestou esperanças de que o sindicato recuasse à última hora, apelando aos pilotos individualmente:“Apelo a que os pilotos, homens e mulheres que estão habituados a tomar decisões em momentos delicados, trabalhem de 1 a 10 de Maio.”
Sindicato desafia Monteiro Confrontado com as acusações que o secretário deEstado dos Transportes fez aos pilotos numa entrevista na quarta-feira à noite, Manuel Santos Cardoso, presidente do SPAC, desafiou o mesmo a provar essas acusações. Sérgio Monteiro acusou os pilotos de “actos de sabotagem” contra a TAP. Em reacção, o líder do sindicato lançou o desafio:“Resta ao senhor secretário de Estado apresentar desculpas ou então, caso tenha provas do que nos acusa, que vá a tribunal provar.”
Não são só os pilotos que estão cada vez mais distantes de accionista e administração. Depois de a plataforma sindical da TAPter culpado o actual e anteriores executivos, assim como a administração deFernando Pinto, pelos 800 milhões de euros de descapitalização da empresa nos últimos anos, ontem foi a vez da comissão de trabalhadores da TAP de se pronunciar sobre as ameaças de Passos Coelho, Paulo Portas ou Pires deLima.
“É evidente que esta ameaça de reestruturação é em parte uma chantagenzinha do tipo, ‘ou aceitam a privatização ou levam com uma reestruturação’”, acusou a CT. Esta organização, tal como as que representam trabalhadores daTAP,reiteram que a empresa é sustentável e os números só estão no vermelho à conta das decisões de Fernando Pinto. “Os resultados das empresas do grupo TAPsão, no essencial, positivos em 2014, com a excepção crónica da Manutenção Brasil, para onde continuam a ser drenados os recursos da empresa.” A CT assegura ainda que não vai “ignorar que os únicos e criminosos objectivos do governo são a criação de oportunidades de negócio aos amigos”. Em 2013, a própria Parpública admitia que a TAP conseguiria recapitalizar-se com meios próprios.
in: Jornal i, 1 Maio 2015