Se a oferta de Isabel dos Santos sobre a PT, SGPS tiver sucesso, accionistas portugueses desaparecem definitivamente do cenário
A absorção da Portugal Telecom (PT) pela Oi passou pela transferência dos activos da empresa portuguesa – como o MEO por exemplo – para a operadora brasileira, com os accionistas da PT, SGPS a receber em troca uma posição de 25,6% do capital da Oi. Esta participação não passou directamente para os accionistas, ficando antes concentrada nas mãos da PT, SGPS.
Assim, é através da PT, SGPS que os accionistas da PT têm os seus 25,6% da Oi, e são estes 25,6% que estão na mira de Isabel dos Santos, pelo que o sucesso da oferta da empresária significa o fim da presença portuguesa na Oi. Entre os accionistas da PT conta-se o antigo núcleo duro português da operadora, que validaram o negócio PT/Oi, dando como razão a oportunidade de se criar uma “mega operadora luso-brasileira”.
Este núcleo duro de accionistas portugueses da PT é composto pelo Novo Banco, Ongoing, Visabeira, Fundo da Segurança Social e Controlinveste. Um conjunto de investidores que detém 27,3% da PT, SGPS, o que significa que, indirectamente, a posição portuguesa na Oi está neste momento em pouco menos de 7% – ou seja, 27,3% das acções que representam os 25,6% da Oi. E se esta posição já é curta face ao prometido pela gestão da PT na altura da aprovação da entrega de activos ao Brasil, a oferta de Isabel dos Santos sobre a PT, SGPS pode significar a estocada final na presença portuguesa na tal “mega operadora luso-brasileira”, que, caso a OPA tenha sucesso, tornar-se-á uma aliança Luanda-Rio de Janeiro, reforçada pelos activos portugueses entregues pela equipa de Zeinal Bava e accionistas portugueses à Oi.
Caso os accionistas da PT, SGPS aceitem a oferta de 1,35 euros apresentada por Isabel dos Santos no último domingo, então as empresas e fundos portugueses com acções da PT poderão ambicionar um encaixe de pouco mais de 330 milhões de euros, dos 1,21 mil milhões oferecidos por Isabel dos Santos. Perto de 121 milhões serão para o Novo Banco e Ongoing, cada, e os restantes accionistas portugueses – Visabeira, Segurança Social e Controlinveste – receberão à volta de 30 milhões de euros cada. Em troca, o “interesse nacional” que ainda existe na absorção da PT pela Oi desaparece de vez. De destacar que os accionistas da PT, SGPS entregaram activos hoje avaliados em sete mil milhões de euros.
A oferta da filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos, a ter sucesso, levará à troca da posição portuguesa na Oi/PT pela entrada de uma posição angolana. Isto implica que ao invés de serem os accionistas actuais da PT, SGPS, a ter o poder de veto sobre a venda dos activos portugueses da Oi – que estão na empresa “PT Portugal”, detida a 100% pela Oi -, será Isabel dos Santos a puxar para si esse poder. Na semana passada, Isabel dos Santos, em conjunto com Paulo Azevedo, manifestou o interesse em “integrar uma solução que, em aberta colaboração com as partes envolvidas, assegure o necessário compromisso de interesses, promovendo a defesa do interesse nacional” na PT Portugal. Uma “defesa” que passa por expurgar os accionistas portugueses da Oi.
in: Jornal i, 11 Novembro 2014