Mercado laboral. Nunca trabalhámos tanto nem tão pouco

Mais de 23% dos trabalhadores dedicam mais de 40 horas semanais ao emprego, máximo que chegou com a troika. Do lado oposto, o mesmo: 8% trabalham menos de 20 horas

Em Junho deste ano, 8,2% da população empregada em Portugal trabalhava entre 46 e 50 horas por semana, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), um valor nunca visto desde pelo menos Março de 1998, data mais recuada de que há registo – entre 1998 e 2014 o peso médio deste horário no total de trabalhadores foi de 6,9%.

De regresso a 2014, no final do primeiro semestre havia ainda 7,3% pessoas com emprego a investir mais de 50 horas semanais na profissão, isto quando entre 2005 e 2010 este valor rondou sempre entre 5,7% e 4,7%. Aliás, para encontrar um peso equivalente ao actual de trabalhadores com mais de 50 horas semanais dedicadas ao emprego é preciso recuar a Setembro de 1999, última vez antes da chegada mais recente da troika a Portugal em que mais de 7% da população com emprego estava a trabalhar acima de 50 horas semanais.

A reestruturação do mercado laboral português está assim a exigir cada vez mais horas de trabalho: o total de empregados com 41 horas ou mais de trabalho semanal ascendia em Junho último a 23,4% – 1,06 milhões em 4,5 milhões de pessoas com emprego. Antes, no período pré-troika, é preciso recuar de novo até 1999 para encontrar algum paralelismo – desde 1998 e até 2014 a média foi de 20,6%. Mas também no extremo oposto se estão a bater recordes. Isto acontece porque a reentrada no mercado laboral actualmente está a ser feita através de situações de subemprego.

No final de 2011 havia 52 mil pessoas em situação de subemprego no país, segundo dados do INE, valor que compara com os 252 mil trabalhadores nessa situação registados no final de Junho deste ano – mais 385%. Ou seja, a recuperação recente da taxa de desemprego deve-se em grande parte a trabalhos precários e insuficientes em termos de rendimento. E isso também se nota na evolução da proporção de trabalhadores com empregos que lhes permitem apenas trabalhar em horários semanais reduzidos. No final de Junho de 2014 havia 3,8% de trabalhadores com empregos de apenas uma a 10 horas semanais, valor que compara com os 2,1% de empregados nesta situação no final de 2010.

Alargando a análise aos trabalhadores com horários de até 20 horas semanais, encontramos um total de 8,2% de empregados nessa condição, um valor que já chegou aos 9,8% na vigência da troika, mas que, antes desta, jamais tinha chegado aos 8%.

Se o total de trabalhadores nos extremos dos horários exigidos no mercado laboral está a crescer, entre os que trabalham a mais e os que trabalham a menos, naturalmente que o total de pessoas com empregos de horários semanais mais aproximados do previsto legalmente está a cair. É entre as 36 e as 40 horas semanais de trabalho que se encontra a maioria da população empregada.

Neste patamar, e em Junho último, encontravam-se 52,4% dos trabalhadores, valor que no pré-troika estava nos 57% e que antes disso só foi atingido em Setembro de 1998. Pior é o cenário que se vive nos horários imediatamente anteriores: entre 31 e 35 horas encontramos hoje 5,9% dos trabalhadores, o valor mais baixo de sempre, e entre as 26 e as 30 horas dedicadas ao trabalho encontramos 2,4% da população empregada, isto quando a média de trabalhadores neste horário entre 1998 e final de Junho deste ano foi de 3,2%.

Jornal i, 25 Agosto 2014

Evolução (Fonte: INE e Banco de Portugal)

  • Até 25 horas:

emprego1

  • 26 a mais de 50 horas semanais:

emprego2

 

 

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