Depois de Paulo Portas ter feito explodir os juros, coube agora à banca mandar tudo a baixo. Governo só se queixa da Constituição
Um mês. Foi o tempo necessário para a bolsa portuguesa ver a banca destruir toda a lenta recuperação que tinha encetado desde o último Verão – marcado pelo “incidente irrevogável”, que levou à promoção de Paulo Portas a vice-primeiro- -ministro. Na altura a bolsa caiu, os juros da dívida pública dispararam como nenhuma decisão do Constitucional tinha levado a acontecer. Um ano foi o que demorou normalizar a situação, até que o Banco Espírito Santo não conseguiu mais esconder os seus buracos.
Em Julho do ano passado, o PSI20 chegou a cair até aos 5364 pontos, o seu ponto mais baixo desde a Primavera de 2012, quando rondava os 4400 pontos. Com o avanço de 2013 e os primeiros meses deste ano, porém, o índice retomou alguma normalidade, valorizando lenta mas gradualmente, tendo chegado a acumular ganhos de 16% no ano, marco ironicamente atingido a 1 de Abril. Na altura a cotação do PSI20 chegou aos 7700 pontos, acabando depois por nivelar na casa dos 6800. Em Julho chegou o BESgate.
O mês começou ainda a bolsa aguentava a sua cotação global nos 6830 pontos, mas a partir de 4 de Julho o cenário inverteu-se por completo e num ápice os donos de acções de empresas cotadas no PSI20 passaram de um ganho acumulado de 15% desde o início do ano para perdas que já chegam aos 17,5% desde 1 de Janeiro, culpa do preço do colapso do BES: a bolsa desvalorizou 21% desde 5 de Julho e 30% desde o pico de Abril. Nem os chumbos às medidas do governo violadoras da Constituição conseguiram tal impacto, apesar de serem recorrentemente referidos pelo governo como se tivessem impactos bem mais elevados.
CMVM só soube à tarde A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) esclareceu esta semana que só soube que ia acontecer alguma coisa ao BES às 15h da sexta-feira anterior ao fim-de-semana que matou o banco. Foi então que decidiu suspender a negociação das acções, que estavam em queda livre há dias dada a fúria vendedora de algumas instituições que conseguiram salvar o seu dinheiro do banco – talvez tenham adivinhado por obra e graça do Espírito Santo o que ia ocorrer.
Num esclarecimento enviado ontem aos jornalistas, Carlos Tavares, líder da CMVM, avançou que “no dia 1 de Agosto […] a CMVM determinou a suspensão da negociação, o que ocorreu logo após ter tido conhecimento de iminentes desenvolvimentos que vieram a ser conhecidos durante o fim-de- -semana”. Foi o governador do Banco de Portugal que telefonou a Carlos Tavares a dar conta de que algo ia acontecer durante o fim-de-semana, segundo contou o próprio Carlos Costa na comissão parlamentar da última quinta-feira. “A suspensão da acção na sexta-feira foi decidida por Carlos Tavares depois de uma conversa comigo. Mas a decisão cabe-lhe a ele. Foi depois de uma conversa telefónica que decidiu tomar a decisão de suspender as acções”, disse o responsável pelo Banco de Portugal. “Não houve aqui falta de contacto”, garantiu ainda Carlos Costa.
in: Jornal i, 9 Agosto 2014