Sport TV. Clubes de futebol perdem até 140 milhões com direitos e situação pode piorar

Análise de Luís Cabral recomenda chumbo da operação e salienta que clubes podiam estar a encaixar até 200 milhões com direitos

A operação que visa dividir o controlo da Sport TV entre as duas maiores operadoras de televisão do país voltou à estaca zero, o que voltou a apontar os holofotes para este negócio, que perdeu mediatismo devido às operações que entretanto se registaram nas telecomunicações, com a fusão da Zon com a Optimus e o desvio da Portugal Telecom para o Brasil. Foi precisamente pela fusão da Zon com a Optimus, segundo avançou ontem o “Diário Económico”, que a partilha de poder negociada entre a PT e a Zon para a Sport TV voltou à estaca zero.

A operação em causa foi notificada no início deste ano e consiste na divisão em três partes iguais do poder nas empresas Sport TV, Sportinveste e PPTV, que assim ficarão nas mãos da Controlinveste, da Zon Optimus e da Portugal Telecom. A PPTV é a empresa que detém os direitos dos jogos relativos aos escalões principal e secundário das competições da Liga de Futebol Profissional (LPFP) e daquelas em que participa a selecção nacional, revendendo-os à Sport TV. O negócio tem levantado alguma polémica, sobretudo porque concentra conteúdos premium, os direitos de transmissão de jogos de futebol nos dois maiores operadores de televisão. O problema é que já hoje, ainda sem esta fusão, este mercado é muito criticado.

“O principal motivo para a baixa compensação recebida pelos clubes da LPFP é a falta de concorrência no mercado da aquisição de direitos de transmissão, que efectivamente funciona como um monopsónio [monopólio do lado da procura] sem concorrência potencial”, conclui Luís Cabral, da Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque, nas análises, consultadas pelo  i, que realizou a este negócio e que o levaram a recomendar “a rejeição clara” do mesmo em Maio. “A presente proposta de concentração […] aumenta o poder de monopsónio da PPTV e da Sport TV em desfavor dos clubes; implica para os demais operadores um maior risco de exclusão; aumenta significativamente a probabilidade de comportamentos concertados – isto é, três efeitos diametralmente opostos ao indicado na notificação”, sintetiza o professor de Economia e Gestão no Trabalho “Sobre o Controlo Conjunto da Sport TV pela Zon e PT”. E vai mais longe: “É difícil pensar numa prática que melhor facilite a concertação das estratégias da Zon e da PT.” Não é assim de estranhar que Luís Cabral refira “que tanto a análise económica como os precedentes jurídicos apontam para uma rejeição clara da proposta PT/Zon”.

Num outro trabalho sobre o negócio, Luís Cabral sustenta que “o total de direitos recebidos pelos clubes da Liga Sagres é cerca de 58 milhões de euros”, apontando as “estimativas da empresa O&O para valores entre 100 e 200 milhões de euros. Por outras palavras, cerca de dois terços do valor gerado num mercado concorrencial são capturados pelo monopsonista”. Assim, “a falta de concorrência implica uma perda de valor para o consumidor, bem como para os clubes “, daí a objecção da Liga ao negócio [ao lado].

in: Jornal i, 4 Dezembro 2013

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