A entrada do Sporting no seu ‘novo século’ faz hoje dez anos, quando uma “festa apartidária e aclubística para todo o sempre recordar” marcou a inauguração do novo Estádio. Esta infra-estrutura prometia uma nova vida ao Sporting, os adeptos responderam em massa e de um ano para o outro as receitas de bilheteira dispararam: os 4,5 milhões de euros conseguidos na última época do José de Alvalade passaram a mais de 10 milhões na primeira época no Alvalade XXI. “Embora a performance desportiva tenha ficado aquém das expectativas (…) foi possível registar um incremento nos proveitos de 6,9 milhões. A este facto não está alheio as condições do novo Estádio, o qual tem despertado interesse crescente”, refere o próprio clube no fecho de contas da época 2003/04.
Para o Sporting, a estreia com o United foi “o grande momento” da primeira década de vida do Estádio, como se lê no site do clube: “É um estádio futurista que recebeu jogos do Euro-04 e uma final europeia, da Taça Uefa (…) No entanto, o grande momento aconteceu a 6 de Agosto, o dia da sua inauguração.” Não fosse aquela derrota a 18 de Maio de 2005 com o CSKA e o grande momento do estádio seria outro.
Efeito Luís Filipe Da inauguração, ficam dois registos. Luís Filipe foi o primeiro jogador a marcar um golo no Alvalade XXI e a exibição de Ronaldo fez com que o United poucos dias depois o comprasse por 15 milhões. Nestes dois registos, ironicamente, encontramos dois sinais do futuro próximo que esperava os adeptos.
À imagem da carreira de Luís Filipe, também a carreira desportiva do Sporting desde a inauguração do Alvalade XXI ficou marcada pela irregularidade. O clube conquistou duas Taças de Portugal e foi uma vez finalista vencido, e ainda não festejou qualquer campeonato no novo estádio – vivendo agora o segundo maior jejum de sempre. Em comparação, e nos últimos dez anos de vida do antigo Estádio, o Sporting celebrou dois campeonatos e duas Taças – e foi finalista vencido por três vezes.
Em termos de troféus, os primeiros dez anos do novo Estádio ficaram assim abaixo da última década de vida do antigo estádio, algo que ficou particularmente evidente na última época, com os leões a registarem a pior posição de sempre, fruto de um aproveitamento de apenas 46,7% dos pontos possíveis no campeonato – na última vez que foi campeão (2001/02), aproveitamento do Sporting chegou aos 74%.
Efeito CR Quanto à venda do (ainda) jogador mais caro do mundo por apenas 15 milhões poucos dias depois da inauguração do Estádio, parece que assinalava a entrada do SCP num período conturbado em termos de negócios e contas. Lado a lado com a queda desportiva, as contas entraram em deterioração, especialmente nos últimos anos, levando a uma queda gradual nos bilhetes vendidos e na valorização de jogadores. Esta queda nos níveis exibicionais e nas contas aliás, obrigou mesmo o clube de Alvalade a engolir em seco e a precisar de recorrer ao rival Futebol Clube do Porto para conseguir retirar o maior valor possível de uma das últimas jóias consagradas da Academia: falamos de João Moutinho, que precisou de passar pelo Dragão antes de ser um jogador digno de render 25 milhões.
Ao olhar para o passado do Sporting há um detalhe final a destacar na entrada do clube na segunda década do estádio: quando inaugurou o Alvalade XXI, o Sporting tinha muito a perder, já que havia sido campeão duas vezes nas quatro temporadas anteriores, resultados que, em conjunto com o novo estádio, alimentavam a esperança do fim dos jejuns e o regresso de vitórias regulares nas maiores competições. Agora, o SCP entra na segunda década de vida do Alvalade XXI com tudo a ganhar e pouco a perder, culpa da última época. Talvez a inversão comece por aqui.
in: Jornal i, 6 Agosto 2013