“‘Não se preocupem’ é uma expressão que me deixa preocupado”, observava ontem Matthew Dalton, correspondente em Bruxelas do “The Wall Street Journal”, no rescaldo da conferência de imprensa de Durão Barroso e de Alenka Bratušek, primeira-ministra da Eslovénia. A maioria das respostas de ambos visaram apenas uma ideia: a Eslovénia não é Chipre. No fim do encontro ficou a garantia do presidente da CE de que a instituição “vai continuar a apoiar os esforços da Eslovénia” de recuperar a economia.
As atenções viraram-se para a Eslovénia assim que a crise bancária em Chipre levou à imposição de uma pesada receita de austeridade, que vai reclamar pelo menos 60% do dinheiro depositado nos principais bancos cipriotas. Ontem, um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre a situação eslovena ampliou ainda mais os receios, pintando um quadro negro de Ljubljana, mas, ao mesmo tempo, sublinhando que não há razões para crer que o país vá precisar de um resgate. “A situação da Eslovénia é completamente diferente da ocorrida em Chipre”, salientou também Barroso, concluindo que está “confiante” que as reformas já em curso serão suficientes para o país “retomar o crescimento”. Opinião oposta à da OCDE.
A Eslovénia já avançou com vários cortes nas despesas sociais e na educação, além de já ter também avançado com um corte de 5% nos salários dos funcionários públicos, tendo ainda aumentado os impostos sobre os imóveis e sobre os veículos e também o IRS. “Para os próximos dois anos estão já acordados mais cortes nos salários, nas pensões e nos subsídios de desemprego”, esclarece a OCDE no relatório de ontem.
Porquê o pânico? As conclusões da OCDE de ontem mostram que a Eslovénia está num ciclo recessivo que faz disparar o total de crédito malparado na banca, com o país a assegurar já um lugar de destaque na lista dos países com um maior rácio de malparado, superado apenas pela Grécia, pela Irlanda e pela Hungria, e seguido por Itália e Portugal. A OCDE calcula que cerca de 14% do total dos créditos nos balanços dos bancos estão em sério risco. “E enquanto a recessão perdurar a situação vai continuar a piorar. O caso é especialmente preocupante nas empresas, com o malparado a atingir 24% do total do crédito. Só entre as empresas de construção, 62% dos créditos estão por pagar há mais de 90 dias e as maiores empresas estão insolventes”, lê-se no relatório da OCDE.
“A Eslovénia foi apanhada num ciclo boom-bust, composta por reformas mal conduzidas e pela crise da dívida soberana. A redução do endividamento dos sectores público e privado está a pesar muito no potencial de crescimento do país, ao mesmo tempo que o desemprego está a crescer, as exportações a cair e as condições de financiamento a deteriorar-se”, reflecte ainda a OCDE, num diagnóstico que faz lembrar outros países do euro. Sobre as reformas já em curso, a conclusão é simples: “São necessárias reformas adicionais.”
in: Jornal i, 10 Abril 2013