Num país onde poucos governantes são chamados à justiça, é bom surgir alguém que de quando em vez abdica do poder por convicção. O ex-secretário de Estado da Energia era um desconhecido. Em curtos meses percebeu que nada do que é preciso fazer ao nível dos apoios a empresas como a EDP – cujos lucros davam para distribuir 107 euros a cada um dos 10,5 milhões de residentes em Portugal – está a ser feito, sendo várias as desconfianças de que as “negociações por mútuo acordo” em curso mais não sejam que areia para os olhos dos contribuintes.
Dois exemplos opostos neste campo, ambos do ex-governo: Campos e Cunha, que percebeu em meses alguns dos desvarios a que José Sócrates se propunha e saltou fora rapidamente; e Teixeira dos Santos, que há meses sabia da loucura suicida em que José Sócrates entrara e que preferiu manter a farsa a demitir-se. Porque uma demissão sai cara a um governo. Uma demissão alerta as pessoas. Henrique Gomes alertou que nada está a ser feito contra um dos maiores cancros das contas públicas. Henrique Gomes não deixou dúvidas sobre a “adaptação” que o governo está a dar às beneficiárias dos apoios da energia. Henrique Gomes defendeu o seu nome para a posteridade e mostrou que estava ali para servir o país.
Em contraste, Teixeira dos Santos não fez isso. Ao não demitir-se, preferiu apoiar a qualquer custo o “seu homem” a defender o país. Ajudou à farsa do Orçamento mais ridículo [e caro] de sempre – em ano eleitoral – e do último semestre de Sócrates, validando a estratégia de ir buscar crédito a qualquer preço, fingindo que estava tudo bem. Estes foram dois actos que, sabemos já, passaram uma factura demasiado alta a este país. Mas, valha-lhe isso, o “seu homem” aguentou mais uns meses. A não renegociação justa dos acordos com os produtores de energia também sairá bem cara ao país mas, valha-lhes isso, estão assegurados mais uns meses de subsídios gordos. Pena é o país já estar a ficar outra vez com governantes que só defendem o “seu homem”.
in: Jornal i, 15 Março 2012
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