Os planos quinquenais da UE

Um erro que fica para a história deste período é a constante culpabilização dos povos de cada país pela crise. Ao não apontar o dedo aos reais culpados (a má e/ou criminosa gestão política) e insistir em culpar “gregos” ou “portugueses”, Bruxelas, Berlim e Paris estão a hostilizar os europeus contra si e uns contra os outros. Quem está a decidir em nome da UE prefere disfarçar erros com juros altos e impondo austeridade para mostrar aos seus eleitores quão implacáveis são com os povos que se portaram mal – e que grego tem culpa de os políticos terem adulterado contas?

Mas a insistência em punir os povos já passou limites e lentamente as pessoas vão perceber que quem está na redoma prefere milhões de pobres a dar o braço a torcer. A nova austeridade na Grécia é exemplo: condena quem ganha o salário mínimo a um corte imediato de 22% a 32% de salário. Pode alegar-se que o SMN na Grécia são 751€ – mais que os nossos 485€, como se nivelar por baixo fosse caminho –, mas pensemos nos milhões de portugueses com salários até 751€. Em que condições ficariam se perdessem 22% a 32% do salário? Um corte destes condena milhões à pobreza, e isto é um crime.

Na URSS, Estaline levou a cabo dois programas agressivos de planificação económica. Com eles tornou a URSS uma potência mundial, mas matou milhões de cidadãos com a deterioração das condições de vida no país (por ordem de Bruxelas a austeridade está a levar milhões para a pobreza). Por ordem de Estaline, fábricas e trabalhadores que não cumprissem metas eram publicamente humilhados (por ordem de Bruxelas, país que não cumpre metas é humilhado e sofre mais austeridade). Estes paralelismos servem para dizer que o período que atravessamos (2008/12) está a mostrar como até em democracia podem existir planos quinquenais que, como na URSS, são para “cumprir custe o que custar”, em nome de objectivos alheios aos interesses básicos dos povos. Lembro, por fim, que a austeridade grega foi aprovada por um governo em que ninguém votou.

in: Jornal i, 16 Fevereiro 2012

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