Fitter, happier, more productive
Se na Islândia o ataque à crise apostou no reforço dos apoios sociais e na redução do fosso salarial – o coeficiente de Gini passou de 0,43 para 0,29 –, em Portugal insiste-se no oposto: cortam-se apoios sociais e agrava-se o fosso salarial – a austeridade está a castigar os que têm menos.
Os resultados são (pasme-se!) também opostos: a Islândia voltou a crescer (2,5%) e baixou o desemprego de 9% para 5,8%. Por cá todos sabemos o que tem acontecido. Agora chega a reforma laboral, um passo importante, sem dúvida, mas que vai demorar a dar frutos. As confederações olham para esta reforma como uma panaceia, mas esta faz pouco para resolver os maiores problemas da falta de produtividade do país: custos de contexto; justiça perra e permeável; a pseudoconcorrência nos sectores que mais deviam puxar pela economia; a carga fiscal asfixiante; e a falta de motivação provocada por ter sido imposta aos portugueses a factura de uma crise (ou erros de gestão) de que não são culpados.
Alguém fica mais motivado por trabalhar mais a troco de menos? Alguém fica mais motivado quando sabe que o Estado lhe está a tirar cada vez mais dinheiro para suportar juros, pagar subsídios inúteis a empresas ou salários a milhares de caciques? Alguém fica mais produtivo se trabalhar numa empresa que despede 30 trabalhadores mas cujas chefias não abdicam de 20% ou 30% dos milhares de euros que recebem para salvar alguns empregos? Temos 3,3 milhões de famílias, num total de 4,7 milhões, a viver com menos de 1200 euros brutos/mês no país [declarações de IRS de 2009].
Acha que ao cortar o rendimento das famílias que ganham esta fortuna elas vão ficar mais produtivas? Ou vão ficar cada vez mais ocupadas a pensar em como vão sobreviver? Sim, a reforma laboral é necessária. Mas o erro é o de sempre: querem tanto ser o “bom aluno” que nem pensam no lado prático da teoria que estão a pôr em prática. Sim, se fôssemos robôs, sem emoções, inteligência, motivações, preocupações ou fome, o Excel que justifica este caminho para aumentar a produtividade teria o efeito desejado: “Se o C-3PO produz xis/hora a um custo de ípsilon, basta aumentar as horas e reduzir o custo, e o gráfico dispara.” Pois, mas não somos robôs. Nem números. Nem culpados. Somos, isso sim, alvos fáceis.
in: Jornal i, 19 Janeiro 2012