Em 2010 gastámos 5,2 mil milhões de euros em juros. Este ano serão 7,1 mil milhões. No próximo, 8,8 mil milhões. Em 2013? Mais ainda… contas feitas, são quase 30 mil milhões para juros (18% do PIB) em quatro anos, quase o triplo do que temos de cortar ao défice – de 16,8 mil milhões para 5,2 mil milhões – no período.
Ainda assim, a única coisa palpável que se discute é um corte à dívida grega. Mas o receio do incumprimento está a matar a UE – leva os juros para níveis loucos –, só porque ninguém assume o inevitável: haverá perdas generalizadas e só quando estas forem balizadas é que a pressão acalmará. E para balizar as perdas – sem incumprimento –, porque não negociar um desconto aos juros pagos pelos estados? Se Portugal tivesse de pagar menos 50% de juros este ano, o défice seria de 3,7% e não 5,9%.
Seria uma forma imediata de dar folga aos países. Já para os credores a questão é: “Queres os 100 euros que me emprestaste sem os 5 euros de juros que prometi, ou preferes arriscar que só pague metade por essa dívida que ninguém quer?” Este desconto nos juros mataria vários receios – sem 5% do PIB hipotecado um país responderá melhor – e mostraria uma UE ao ataque: a assumir que quer controlar perdas e não evitá-las a qualquer custo, como tem feito desde o dia 1 sem resultados. Com esta folga, havia menos austeridade e menos recessão, e estados e empresas poderiam voltar a servir de desfibrilhadores económicos. E ainda ganharíamos um bem raro: tempo para deixarmos de reagir a quente.
Difícil? Não deve ser mais que negociar um corte de 50% na dívida grega. Falta é assumir que vai haver perdas generalizadas e que o caminho em que se apostou em 2010 está errado: resolver a crise com austeridade ao mesmo tempo que se avança com reestruturações profundas é como obrigar alguém com uma perna partida a ir à fisioterapia antes de tirar o gesso – vai piorar, como a crise tem piorado. Chegou a hora de assumir que os donos de dívida vão perder dinheiro. Por ora ainda podemos escolher entre conter as perdas e brincar à roleta. But not for long.
in: Jornal i, 10 Novembro 2011