Emergências e previsões

Emergência: Portugal está falido. Portugal não tem dinheiro. Vamos tirar tudo a todos. Emergência! Caos! Hecatombe! Fim do mundo! Vale tudo! Certo, o Estado e as empresas públicas não têm dinheiro para pagar salários.

Ok, a situação é crítica. Mas há uma pergunta que não me sai da cabeça: se a emergência é tão grande que até precisam de tirar dinheiro a um pensionista com um rendimento ridículo, então e as empresas? E não falo de aumentos de impostos às mesmas. Nada disso. Mas com a mesma ligeireza com que se retiram subsídios de férias e Natal e se cortam salários violando a Constituição em nome de “uma conjuntura excepcional” e sem negociar com ninguém, por que razão continua o Estado a dar centenas de milhões de euros em subsídios totalmente injustificados a empresas? “Renegociar contratos”? Desculpem? Então mas não está aí o fim do mundo? Ou é só para alguns?

Não acham que o dinheiro que os contribuintes dão por essas taxas na conta da luz poderia ser bem mais útil aplicado noutros itens, ao invés de ser usado para comprar electricidade ao dobro do preço que ela custa? Ou preferem cortar o rendimento a pessoas que ganham 500 euros? Mas vá, inverto a ideia: alguém quer renegociar comigo o corte de metade do meu subsídio de Natal este ano? Caro governo, as receitas que vocês têm são mais que suficientes para dar a volta a isto, basta ter coragem para as reafectar ao essencial ignorando o acessório, o fútil e tudo o que é injustificado e despropositado. Só então se resolverá tudo isto.

Previsão: Portugal. Meados de 2012. A contracção é maior que o esperado. As receitas fiscais estão aquém do previsto. O consumo recuou ainda mais que em 2011. Não se vendem carros, não se consome. O desemprego continua imparável. As empresas públicas pesam cada vez mais no Orçamento, afogadas num mar de dívidas que vencem. Derrapagem total, governo prepara mais austeridade… Pronto, é isto que vai acontecer, mais coisa menos coisa.

PS: Há anos que temos governos iguais ao Sporting de 1983. “Agora é que é. Agora é que é. Agora é que é”, mas só foi em 2000. E ainda falta tanto para Portugal chegar ao século xxi.

in: Jornal i, 20 Outubro 2011

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