Num país onde a justiça destrói a democracia – e vice-versa, num ciclo interminável de leis feitas por políticos –, no domingo dei por mim a procurar o lado positivo da vitória de Jardim. E encontrei. Bastou imaginar o cenário se ele perdesse: teria uma uma pensão choruda paga pelos contribuintes que lesou e, qual pirómano que gosta de ver o seu espectáculo, iria refastelar-se num qualquer resort madeirense a rir com as tentativas do seu substituto de sair do buraco em que ele meteu o arquipélago.
Iria acusar os seus sucessores pela austeridade que vai ser imposta à Madeira; iria mandar bitates anti-Continente (porque nunca perceberá que lesar o Continente é lesar a Madeira e vice-versa); iria dizer que com ele nunca teriam acabado as transferências do OE para a região; e que com ele é que era; e que nunca a Madeira passou tão mal quando ele mandava, etc. Basta aliás ver a vida de Sócrates hoje: o país a arder com muita lenha dos últimos anos – mil e uma PPP, orçamentos eleitoralistas, emissões de dívida a níveis loucos, auto-estradas, não sei quantas mini-hídricas… – e que anda ele a fazer? “Estuda” Filosofia bem longe do buraco que ajudou a cavar. E os antecessores? Um é provedor da Santa Casa. Outro é presidente da Comissão Europeia. Outro é alto comissário dos Refugiados. Outro é Presidente da República.
É que, ironicamente, Jardim vai ser o único que fica no cargo na altura em que a factura chega. Pois bem feita! Há falta de justiça – o ideal era responsabilizar os políticos que não cumprem a lei, mas a lei é feita pelos políticos… –, haja ainda uma ou outra linha direita no meio de um país tão torto.
in: Jornal i, 13 Outubro 2011