“O centro de decisão fica em Portugal.” Sempre que há privatizações, um decisor puxa desta frase vendendo-a como garantia de que o interesse público está assegurado. Uma ilusão. Uma empresa privada, em Portugal ou em Inglaterra, persegue o objectivo de agradar aos accionistas. O inconveniente desta ilusão é que perpetua os erros de curto prazo – a venda apressada de empresas para conter a dívida.
A maioria das privatizações em Portugal criou monstros sem concorrência, que, com forte posição no mercado, seja pela falta de concorrentes seja por serem dez vezes maiores que os rivais, extraem lucros exagerados que saem do país em forma de dividendos – os accionistas destas empresas são em grande maioria estrangeiros. Criaram-se assim centros de extracção que anualmente drenam centenas de milhões a Portugal já que actuam livremente no mercado em prol da remuneração accionista.
Onde está a vantagem de o centro de decisão ser em Lisboa quando a empresa é tão grande que dificulta a vida aos concorrentes – se os tiver -, pratica preços europeus e salários de terceiro mundo, paga o mínimo de impostos e corta serviços básicos a um desempregado que não pagou a última factura? Ou será a contratação de boys e o acesso a investimentos sem risco que faz destas empresas defensoras do país? Numa privatização o mais importante é assegurar que as empresas ficam em boas mãos, seja onde for a sede, e em mercados onde há real concorrência. Qual o interesse público de a decisão de contratar boys sair de Lisboa?
in: Jornal i, 18 Julho 2011