Portugal na loja de penhores
“Lutarei com todas as forças para que isso [ajuda] não aconteça.” Sócrates voltou à fórmula: diabolizou supostos inimigos externos e é o salvador: “Ou eu ou o caos.” Discurso muito séc.XX mas não vamos por aí. To the point: o governo e a oposição estão dispostos a tudo para evitar que Portugal tenha ajuda, alegando que estão a defender os portugueses – “o menu do FMI é horrível” – e “a imagem do país”. Mas Krugman já nos chama “república das Bananas” e os investidores [os “inimigos” que há anos ajudam o Estado a pagar contas] já dão o caso como perdido.
Lá fora o diagnóstico está feito, por cá ainda se fala em vender ouro ou acelerar privatizações – há meses diziam que o “timing não é adequado” (e piorou) e agora vai tudo ao desbarato. Temos um bloco central que prefere o “tudo a qualquer preço” a ver o seu partido ligado ao pedido de ajuda. E temos os outros partidos que preferem esse “tudo” só porque a expressão “FMI” tem um efeito pavloviano nas suas cabeças. Mas depois de se fazer tudo, o que vai restar? Um país mais endividado, sem anéis e com mais problemas. É que chegámos ao ponto de Cavaco vetar uma auditoria às contas públicas e ninguém ficar escandalizado. Boa!
Escondam tudo. É assim mesmo! Qual homem com suspeita de cancro que não quer ver o diagnóstico. Esquece-se é que o cancro vai evoluir na mesma e quanto mais tarde for ao médico, pior. É que após este “tudo” sobra Zero. E por mais que se meta o défice em 0% com IVA a 50%, vamos ficar pior. E sem puder fazer nada. E aí sim, levaremos com um FMI bem agressivo – quimioterapia pesada só porque se tardou em assumir o problema.
PS – Sabia que tudo o que paga em IRS só serve para pagar juros aos mercados? Isto sim, os “inimigos” agradecem.
in Jornal i, 28 Março 2011