Última vistoria de rotina ao A320 foi segunda-feira. Ontem de manhã o avião desintegrou-se nos Alpes. Entre as vítimas, dois bebés e 16 adolescentes
Seis tripulantes e 144 passageiros, na maioria de nacionalidade espanhola (45) e alemã (67), numa lista de vítimas em que se encontram dois bebés e 16 adolescentes de 15 anos – que não perderam o voo por pouco –, de uma escola secundária alemã, que regressavam de uma visita a Barcelona. Esta era a lista negra que se ia compondo a meio da tarde de ontem sobre as vítimas do acidente do 4U925, um A320 da Germanwings, do grupo Lufthansa, que ligava Barcelona a Düsseldorf e desapareceu dos radares cerca de 45 minutos depois de levantar, às 9h, hora de Lisboa, e quando sobrevoava a região de Les Trois Évêches, nos Alpes franceses.
Segundo as informações sobre o voo avançadas pelo Flightradar, por volta das 9h31 o A320 começou a baixar de altitude, mais ou menos na altura em que voltou a sobrevoar terra [ver mapa], uma descida inexplicável que em cerca de dez minutos fez com que o avião baixasse de 11,5 mil metros (38 mil pés) para os 2 mil metros (6,8 mil), a uma média de 1000 metros por minuto – em fase de aterragem, um A320 normalmente desce a 770 metros por minuto mas pode superar os mil metros. Mais que a velocidade da descida, é o local da mesma, em plenos Alpes, e a falta de sinais de alerta, segundo confirmou o regulador da aviação francês, que mais dúvidas levantam: como pode um avião descer mil metros por minuto nos Alpes sem lançar quaisquer alertas? Das companhias envolvidas aos analistas passando pelos reguladores, esta é a pergunta que mais se repete. Ainda no decorrer da tarde já uma das caixas negras tinha sido identificada no meio dos destroços, o que poderá ajudar na obtenção de respostas – e a meio da tarde já as agências de segurança alemã e norte-americana sublinharam não haver indícios de terrorismo.
Os especialistas de aviação ouvidos pelo “Guardian” sublinharam precisamente a descida e a falta de alertas. “O ritmo de descida parece consistente, em 3 mil pés por minuto não é suficientemente rápida para indiciar uma explosão mas é demasiado rápida para estarem a planar. Parece uma descida controlada”, referiu David Gleave, investigador. Já Tony Cable, investigador do acidente do Concorde em 2000, apontou a falta de alertas da tripulação, que pode indicar perda de controlo, confusão do piloto ou uma perda de instrumentos ou falha nas leituras de altitude do aparelho.
Já a Germanwings e a Lufthansa apelaram a que não se avançasse com especulações, prometendo tudo fazer para apurar as causas da queda o mais rapidamente possível. As autoridades francesas montaram um centro de resposta na região, entre a Barceloneta e Digne, de onde partiram vários helicópteros à procura dos destroços. Nestes, seguia Christophe Castaner, deputado pelos Alpes da Alta Provença, que à tarde confirmava: “É um cenário apocalíptico. O avião está todo destruído, só há destroços e corpos.” O pior confirmava-se. Merkel, Hollande e Rajoy confirmaram uma visita ao local para hoje.
A Germanwings durante o dia cancelou vários voos com partida de Düsseldorf, dado o impacto psicológico do acidente nas suas equipas. Foi o primeiro acidente de sempre da companhia.
in: Jornal i, 25 Março 2015
