Taxa de desemprego recuou até níveis de final de 2011, isto apesar de o total de empregos existentes no país ter caído 6,5% no mesmo período
O Eurostat revelou ontem que Portugal tinha uma taxa de desemprego de 14,3% em Maio, o que equivale a 736 mil pessoas sem emprego. A taxa está perto daquela que se registava em Dezembro de 2011, surgindo depois de vários meses de recuo na taxa de desemprego oficial do país. Uma análise mais aprofundada dos dados, porém, mostra que, mais do que uma melhoria, a queda do desemprego está a alimentar-se da deterioração do mercado.
Se é certo que a taxa de desemprego tem vindo a descer e chegou agora a níveis de Dezembro de 2011, não deixa de ser verdade que a economia portuguesa tem este ano menos 309 mil pessoas empregadas do que tinha no final de 2011 – eram 4,73 milhões, são 4,42 milhões, um recuo de 6,5%.
Para o governo, porém, o recuo na taxa de desemprego é a prova de que “estamos a assistir a uma recuperação sustentada”, conforme afirmou ontem Mota Soares. Porém, a queda do desemprego surge por várias razões e quase nenhuma parece apontar para uma recuperação, apontando antes para um movimento de desvalorização do valor do trabalho e para a falta de oportunidades no país.
Para melhor se perceber a evolução que o desemprego tem registado é preciso olhar para os dados de forma mais aprofundada do que apenas a taxa global. Por exemplo: em relação ao final de 2011, Portugal conta este ano com menos 262 mil empregos a tempo completo – se no fim de 2011 havia 4,1 milhões de trabalhadores em fulltime, agora são menos de 3,85 milhões. Este movimento foi compensado pelas empresas com o aparecimento de mais 193 mil empregos que configuram situação de subemprego a tempo parcial – trabalhos com rendimentos abaixo das necessidades de sobrevivência. A substituição de empregos a tempo inteiro por subempregos tem em parte impedido a taxa de desemprego de disparar – se no final de 2011 as situações de subemprego correspondiam a 1,1% do total de pessoas empregadas, este ano esse valor já vai em 5,5% do total.
É também de salientar o de- saparecimento de 292 mil trabalhadores de Portugal desde o final de 2011, com a população activa a cair de 5,5 milhões para 5,215 milhões – a maioria foi procurar a sorte fora do país. Os homens foram os maiores responsáveis pela queda na população activa, com mais de 240 mil a desaparecerem da população activa registada em Portugal desde 2011 – passaram de 2,9 milhões para 2,67 milhões -, contra um recuo a rondar os 45 mil entre as mulheres, para perto de 2,5 milhões.
in: Jornal i, 2 Julho 2014