O prejuízo que vive no limite do lucro

Para que Grécia, Irlanda e Portugal não entrassem em default, provocando um dominó global, FMI, BCE e UE aceitaram emprestar dinheiro a estes países. Mais que de solidariedade, tratou-se de receio com os umbigos, pelo menos no caso do BCE e da UE.

Esta postura viu-se na forma como foram encarados os empréstimos: deram o mínimo indispensável – para manter os países sob ameaça – e cobrando juros altos. Ao terem lucros, julgou quem emprestou, era mais fácil vender a ideia aos eleitores do que falar apenas em solidariedade. Mas esta postura acabou por causar um mal maior: com juros altos e várias rondas de austeridade (e, em Portugal, forçando-nos a continuar com emissões a curto prazo a juros altíssimos), o risco cresceu e vai obrigar quem emprestou dinheiro a contragosto a emprestar mais ou a renegociar os créditos iniciais, tendo ambas as situações custos de confiança: Portugal receber 78 mil milhões e depois precisar de novo empréstimo é bem diferente de ter recebido logo 108 mil milhões, ou, se se preferir, ter quatro anos para resolver as contas e depois pedir mais tempo é pior que ter logo seis anos.

Sem estas imposições – emprestar o mínimo, juros altos, metas impossíveis e austeridade dura –, a crise ainda estaria por resolver, é certo, mas seria bem menor. Mais não seja porque aquilo que os países estão a pagar pelos empréstimos podia ser aplicado em medidas de crescimento.

E esta postura é idêntica à da banca, com as suas recusas de renegociar créditos com as famílias. Como não admitem perder parte dos lucros que estão a ganhar com clientes cada vez mais pobres, o que acontece? A banca fica cheia de malparado e milhões de prejuízo, enquanto a intransigência agrava a crise dos clientes. Estes depois cortam nos gastos, atrofiando mais a economia, o que obriga a mais austeridade.

Com esta, todos ficam pior e o processo recomeça. É como na UE: obriga os países a austeridade não só para organizar contas como para pagar os seus empréstimos, sendo assim responsável pelo agravamento da recessão que impede que os países ressuscitem. E o processo agrava-se. O problema desta crise, no fundo, é um: continua tudo a querer ganhar dinheiro quando há muito se devia estar a pensar em conter perdas ou abdicar de lucros.

in: Jornal i, 23 Fevereiro 2012

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