Realidade: triste, dura e deprimente

A austeridade a que fomos sujeitos nos últimos anos não serviu para nada, e esta é a nossa realidade. Dura, triste, deprimente e nada promissora. Olhando para as contas dos anos mais recentes – e o mesmo será válido para toda a década passada ou mais –, chega-se à conclusão de que a austeridade que nos foi/é imposta não serve para nada, não melhora o estado do país, não é usada para reduzir a despesa do Estado, não traz perspectivas ou ganhos e serve apenas para uma coisa: ter os nossos governantes a gabar-se do quão “bom alunos” são e do quão “corajosas” são as medidas que tomam, apesar de serem o equivalente macroeconómico do “bater no ceguinho” – cortar e cobrar aos mais fracos; cortar na saúde; aumentar impostos; aumentar tarifas; extrair todos os tostões possíveis aos cidadãos, sem contemplações.

Estamos a ser espremidos como nunca em nome de um combate estéril ao défice: que interessa baixar o défice com receitas extraordinárias se o grande problema português é, e sempre foi, o défice estrutural? Que interessa cumprir metas se no ano seguinte continua tudo na mesma? É óbvio que o problema português não está naquilo que as pessoas dão ao Estado, ou nos gastos do mesmo com despesas sociais. O problema está naquilo que o Estado desperdiça, logo, e por mais que se cobre aos contribuintes, o problema irá persistir. Até porque os contribuintes já não têm dinheiro para tanto desperdício do Estado. O real problema do país são os milhares de milhões de euros que o Estado gasta sem sentido em subsídios a empresas que não os devem receber, em contratos de 20 ou 30 anos lesivos do interesse público ou em juros desproporcionados. E nada disto está a sofrer austeridade.

Enquanto o statu quo persistir, enquanto as nomeações continuarem a ser feitas por interesse partidário, enquanto os governantes continuarem alegremente a dizer que não são precisas mais medidas de austeridade – roubando aos portugueses a única forma que têm de se adaptar às medidas futuras: tempo para se prepararem e adaptarem às mesmas –, todo o nosso esforço será em vão. E esta é a nossa realidade. Dura, triste, deprimente e nada promissora.

in: Jornal i, 12 Janeiro 2012

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