Caro António José Seguro, bem sabemos que o legado que o partido socialista deixou ao país seria suficiente para, se estivéssemos a falar de uma empresa, os próximos anos serem dedicados a um rebranding total: mudar de nome, logótipo e até de cores para ver se alguém deixava de associar este PS aos governos suicidas que apagaram fogos com gasolina.
É certo que ninguém inveja o seu lugar. Ninguém quer ser carne para canhão nem o líder que atravessa o deserto. Mas sejamos honestos. Com uma enorme franja da população completamente de rastos pela falta de alternativas, confrontados com mais um governo que mentiu – sim, encontraram buracos inesperados, mas quem lhes mandou prometer o impossível? – já é mais que tempo de o PS sair do armário. Decidam-se de uma vez por todas: ou são contra a troika ou são a favor. Caso ainda não tenham reparado, já existem dezenas de razões para se descolarem da troika – há muitas medidas aprovadas que não estão no memorando que o PS assinou. Já têm todas as razões para dizer “não!” à troika – até porque não é a vossa discordância que vai lançar o pânico no mercado: tendo em conta os últimos anos, os mercados até aplaudem que o PS esteja contra seja o que for.
Mas voltemos ao essencial. Ou são contra ou então, e de uma vez por todas, saiam do armário e assumam concordar com o difícil (e errado) caminho da austeridade posto em prática pelo PSD/CDS. Tomar uma posição firme é o mínimo que podem fazer por todos aqueles 28% de eleitores que vos escolheram. Ou acham que alguém votou no PS porque quer um partido cobarde? “Vou votar no PS porque eles não vão tomar qualquer posição minimamente corajosa.” Entre as razões mirabolantes para votar em Sócrates, esta nunca ouvi. Qual a utilidade de o maior partido da oposição votar “não sabe/não responde” a um Orçamento?
in: Jornal i, 1 Dezembro 2011
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