É com espanto que vejo os apelos da banca a que o Estado pague o que lhes deve, dizendo que esse dinheiro faz falta para revitalizar a economia. Depois de terem ajudado a manter uma das maiores farsas dos últimos anos, não deixa de ser irónico que agora queiram de volta os milhares de milhões que gastaram a mantê-la.
Se o anterior governo demorou tanto a pedir ajuda – o que nos está a sair bem caro -, aos bancos também temos de agradecer, pois foram eles e alguns organismos públicos que de forma artificial aguentaram os juros, adiando o inevitável.
Os discursos eram catastróficos. “Com o FMI vai haver fuga de capitais; o salário mínimo vai cair; temos de fazer tudo para evitar o FMI”; Estas eram as ideias que a banca veiculava sobre o recurso ao FMI, validando assim o teatro socrático. Enquanto isso, nos bastidores, estes bancos iam garantindo que as emissões de dívida tinham compradores e, com os títulos, iam mantendo a sua situação por via artificial – pedindo dinheiro ao BCE.
Agora a farsa rebentou, entrou o FMI, mudou o governo, estamos a perceber o impacto que tudo isto ainda vai ter, e o que faz a banca? Quer o dinheiro de volta. Não tivéssemos vivido tanto tempo na farsa que os bancos ajudaram a montar e talvez a economia não precisasse tanto de ser revitalizada e os bancos tivessem dinheiro. Optaram pela via da farsa e agora falam como se fossem credores preferenciais. O Estado tem muitas contas por saldar, é verdade, mas deve dar prioridade a quem não lhe fez mal.
in: Jornal i, 25 Julho 2011