A reestruturação da dívida é o cavalo de batalha de Bloco e PCP nestas eleições, partidos que pedem uma “renegociação rigorosa/imediata”, que estabeleça “novos prazos, juros e condições razoáveis”, num tom que faz parecer que são os mercados que devem a Portugal. O tema não é de somenos, mas não se pode olhar para ele como material panfletário, especialmente quando os economistas destes partidos sabem as implicações de avançar para uma reestruturação sozinhos [entenda-se, sem um amplo consenso europeu, mesmo que à força, tanto político e económico] – e sabem também que isso não atinge apenas “os mercados”, mas também os detentores de certificados.
Avançando com a renegociação isolada que Bloco e PCP querem, a consequência imediata é o Estado ficar sem acesso ao mercado – se não cumprimos o que acordámos, ninguém nos empresta, ou, a emprestarem, será a juros ainda mais altos. E, como o défice fica indiferente a isso, Portugal continuará com um défice alto e sem dinheiro para contas, pensões ou salários… E aqui o que fazemos? Recorremos aos malditos mercados a juros estúpidos para pagar os salários e pensões? A solução é essa ou cortar o défice para zero. De 9,1% para 0%. E, se cortar 2 pontos já é o que é em termos de austeridade, imagine-se do que falamos neste caso… Mas há mais.
Englobando a reestruturação da dívida no resto dos programas destes partidos, o colapso fica a um passo. Os partidos pedem aumentos de pensões e do salário mínimo, anulação dos cortes salariais… [Não que não concorde com as ideias, concordo, e muito.] Mas, cara esquerda, acham mesmo possível fazer tudo isto, renegociando a dívida, abdicando dos mercados e ainda cortar o défice para 0%? Reformulo: De que serve aumentar as pensões se só as conseguimos pagar até Março? Caro Bloco e PCP, os portugueses precisam de vocês, são os únicos partidos de esquerda que temos. Mas precisam de uma esquerda realista, com argumentos e soluções válidas. Rapidamente.
in: Jornal i, 14 Maio 2011
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