A PT BATEU O RECORDE de lucros de uma empresa portuguesa: 5,67 mil milhões. Mais 730%. Apesar disso, as acções ficaram nos mesmos níveis. Mas se os lucros cresceram 730%, a acção não devia disparar? Não, e a explicação é simples: o lucro veio de receitas extraordinárias.
A PT vendeu a sua melhor fatia e, olhando para os operacionais, estes não foram tão bons quanto o lucro faria crer. Assim, e para quem olha para acções a médio/longo prazo, um lucro de 5,67 mil milhões obtido pela venda do melhor activo e com os operacionais em queda mostra que a situação da PT não justifica que a acção suba muito. Dito isto, é fácil perceber o porquê de o “sucesso” da execução orçamental ser indiferente para os mercados.
Em 2010 cumpriu-se o défice pelo caminho mais extraordinário de sempre. Em 2011, o caminho é outra vez mau: mais impostos, menos apoios, menos salários, medidas nada estruturais e que estão a asfixiar o que resta do país. Ou seja, o défice até pode desaparecer com um IVA de 90%, mas os mercados não vão passar a acreditar no governo. Daqui aos submarinos é um salto. As ideias atrás reflectidas estão também ligadas a isto.
Segundo o “Expresso”, os EUA acham que Portugal só compra armas por inferioridade: como o homem que, em crise de meia-idade, compra um Ferrari. É parecer, e não ser. Tal como nos lucros da PT, tal como na execução orçamental. Outro exemplo e ainda na Telecom: por que razão o governo protestou com a antecipação de dividendos – que visou reduzir impostos dos accionistas – e agora não diz nada sobre o facto de com mais 730% de lucros a operadora ir pagar menos 58% de impostos? Pela mesma razão.
O ano passado, o governo podia parecer aborrecido porque legalmente não havia nada a fazer. Agora, que pode mudar benefícios fiscais das empresas, fica calado. Tudo pelas aparências.
Caro primeiro-ministro, olhando à nossa volta, quer-me parecer outra coisa: essa estratégia já não funciona.
in: Jornal i, 3 Março 2011