Conteúdos de Veraneio – Parte III

Voltando a Saramago – e, em certo sentido, também a Aristóteles.

«O mais corrente neste mundo, nestes tempos em que às cegas vamos tropeçando, é esbarrarmos, ao virar a esquina mais próxima, com homens e mulheres na maturidade da existência e da prosperidade, que, tendo sido aos dezoito anos, não só as risonhas primaveras do estilo, mas também, e talvez sobretudo, briosos revolucionários decididos a arrasar o sistema dos pais e pôr no seu lugar o paraíso, enfim, da fraternidade, se encontram agora, com firmeza pelo menos igual, repoltreados em convicções e práticas que, depois de haverem passado, para aquecer e flexibilizar os músculos, por qualquer das muitas versões do conservadorismo moderado, acabaram por desembocar no mais desbocado e reacionário egoísmo. Em palavras não tão cerimoniosas, estes homens e estas mulheres, diante do espelho da sua vida, cospem todos os dias na cara do que foram o escarro do que são.» 

📖 Ensaio sobre a lucidez, p. 123