Muito se fala das viagens da elite angolana a Lisboa para fazer compras milionárias pela Avenida da Liberdade, onde se vão colocando todas as principais lojas e marcas da Europa para aproveitar esta fúria compradora vinda de Luanda. Mas se esta elite se dedica a malas, relógios e roupa milionária, há outro tipo de negócios tão ou mais rápidos que interessam aos investidores angolanos.
Isto mesmo ficou provado em 24 horas de fúria compradora de Isabel dos Santos, empresária angolana filha de José Eduardo dos Santos. Entre o final de segunda-feira e as últimas horas de terça-feira passada, a parceira de eleição das maiores cotadas portuguesas assegurou para si uma fatia de 19% no capital do BPI e outra de quase 15% na Zon, dona da TV Cabo.
A época é de saldos nas empresas nacionais e, tal como acontece sempre nestes casos, quem pode aproveita e bem: Isabel dos Santos, que no final de 2008 pagou 1,88 euros por acção do BPI até assegurar uma participação de 9,9%, na última segunda-feira assegurou uma fatia de 9,436% do mesmo banco a um preço de 50 cêntimos por acção. Tudo somado é já dona de quase um quinto do banco liderado por Fernando Ulrich.
Mas a viagem pela bolsa portuguesa não se ficou pelo BPI. Aproveitando o facto dos estatutos da Zon terem sido desbloqueados no final de Abril, a empresária angolana no final de terça-feira avançou com a aquisição de mais 5% do capital da empresa liderada por Rodrigo Costa, elevando para perto de 15% o total de acções que detém da dona da TV Cabo. A empresária gastou cerca de 36 milhões de euros neste último investimento, uma verba que foi recebida pelos espanhóis da Telefónica, que ontem ao final do dia anunciaram ao mercado que já não tinham qualquer acção da portuguesa Zon. Especula-se agora sobre o futuro das participações do Banco Espírito Santo e da Caixa Geral de Depósitos na mesma Zon, já que ambos os bancos já assumiram que estas acções são para vender: em jogo está mais de 23% do capital da empresa.
in: Jornal i, 10 Maio 2012